segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

CONFRARIA DA LEITURA-pn
Pinheiro Neto (poetapinheironeto@gmail.com)


EL SOMBRERO DE TRES PICOS – Trata-se de uma novela humorística de enredo muito divertido, escrita em 1874 pelo poeta, jornalista, crítico e, antes de tudo, autor de romances e contos, o espanhol Pedro Antonio Alarcón, natural da romântica cidade de Granada.
Traduzida para inúmeras línguas, “O chapéu de três bicos” a obra foi musicada em 1919 por De Falla, com cenografia de Picasso, numa feliz adaptação para brilhar nos palcos. A narrativa de Alarcón é considerada um clássico da literatura picaresca, que dá continuidade à tradição da arte novelística de Cervantes.
Em síntese, “O chapéu de três bicos” conta a história de Lucas, o moleiro que adora sua bela mulher Frasquita. Ele não ignora que ela é o magneto que atrai para sua casa as personalidades notáveis da cidade – entre elas o Corregedor de Justiça, Don Eugênio, homem vaidoso e conquistador. Don Eugênio imagina uma intriga para atrair Frasquita, mas sua armadilha é descoberta e ele, além de não conseguir seduzir a bela moleira, ainda passa pelo constrangimento de ver seu estratagema revelado.
Com tradução de A. Rolmes Barbosa, introdução de Otto Maria Carpeux e ilustrações de Manuel de Macedo, a leitura de “O chapéu de três bicos” desse excelente escritor espanhol proporcionou-me além do prazer estético uma viagem à época do rei Carlos IV, último rei da Espanha antiga, mecenas de Goya que criou para ele as tapeçarias do Escorial; da velha Espanha antes da invasão francesa que a europeizará, do país separado do mundo pelos Pirineus e pela tradição antiga; e numa província remota, ingênua, onde tudo foi possível como num conto de fadas.
Obrigado, Michelle, pelo ótimo presente.

CLAUDIR SILVEIRA – No dia 07 deste mês deixou o convívio literário o escritor e historiador Claudir Silveira. Nascido no vizinho município de Palhoça estudou a história e a gente de seu município, publicando inúmeros trabalhos e abrigando o maior acervo sobre a colonização, habitação, fundação e emancipação daquela cidade.
Dele li e guardo com carinho “Balaio de caranguejo”.
Por certo Claudir já está integrando a Academia dos Artistas do Universo para onde vão todos os intelectuais, artistas, literatos e muitos outros que deixam de produzir suas obras de arte neste nosso mundo.

BLEFO E BAMBURRO – Recebi, li e gostei. Trata-se de um romance que narra a história de seres humanos vivendo no complexo, estranho e desumano mundo do garimpo, escrito por Álvaro Castro, escritor, jornalista, presidente da Academia de Letras de Itajaí e editor da revista “Sopa de siri”.
Valho-me das palavras de Nair Therezinha da Silva que escreve na segunda orelha do livro: “Ficção e realidade misturam-se, instaurando todo um universo onde o autor transita livremente, só ele sabendo quem é quem. Ao final da leitura fica a vontade de conhecer o garimpo e a cultura toda que ele traz subjacente.
Outra sensação que a narrativa provoca é a consciência de que existem dois brasis: um conhecido, aceito e criticado; outro, velado, misterioso, esperando ser revelado.
O Brasil misterioso manifesta-se com outros valores, mas mesmo assim não deixa de mostrar o avesso do estado endêmico a que estamos acostumados”.

DELMINDA SILVEIRA – Em meados do ano passado a Academia Catarinense de Letras, através de sua Coleção ACL publicou “Obra Completa” da poetisa catarinense Delminda Silveira. São 592 páginas onde desfilam poemas cuja característica mais constante, segundo Lauro Junkes, “é a tonalidade melancólica, triste, desiludida, própria da corrente romântica do ‘mal do século’, embora Delminda supere qualquer atitude derrotista e de desespero, pela sua fé religiosa.”
Nascida na Prainha, em 1854, viveu toda sua vida em Florianópolis, onde morreu em 1932, aos 72 anos. No ensaio publicado às páginas 593 a 609 e intitulado “Delminda Silveira - uma poética da intimidade recolhida”, o escritor Lauro Junkes, Presidente da Academia Catarinense de Letras esclarece que “apesar de desiludir-se amargamente com a vida social, tornar-se arredia à mesma e enclausurar-se no seu universo intimista místico-melancólico, Delminda assumiu com rara audácia, para a época, a condição de mulher-escritora, capacitada para atividades intelectuais, embora não transpareça de sua sóbria e delicada postura nenhuma intenção de desafiar os preconceitos machistas reinantes em seu tempo. Felizmente soube ela superar estreitezas preconceituosas para dar vazão ao seu rico mundo interior, permitindo que a criação poética brotada de seu sentimento povoasse o mundo de mais ternura.”

PONTO DO POETA



Meu jogo não é do riso
Do tabuleiro ou das cartas.
Meu jogo é da emoção
Que rompe a imagem(in-ação)
Ultrapassa fronteiras
Sacia vontades.

É imprevisto
Choro, verdade.

Meu jogo é vento
Soprando o corte
Marcando o ventre
Parindo a dor.

( Jogo 10, Pinheiro Neto, pág. 67 - A rosa do verso)

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