sábado, 24 de abril de 2010

Pinheiro Neto (poetapinheironeto@gmail.com)


O QUE É LEITURA (3) – Ler é uma experiência linguística, um processo de comunicação de idéias, através dos símbolos escritos que, por sua vez, substituem os símbolos orais: as palavras.
As palavras não têm significação por si mesmas. Valem pelo que representam, numa referência permanente às coisas exteriores e aos fenômenos do nosso mundo interior, portadoras dos significados convencionalmente aceitos.
“A linguagem é criação humana, assim como o são outras criações culturais, tais como indumentária, direito, organização familiar, caça, pesca, etc., conforme afirma Câmara Jr. O sentido que lhe emprestamos depende de nossa experiência prévia, de um substrato cultural adquirido no intercâmbio com os demais membros de nosso contexto social.
Quando dizemos casa, jogo, liberdade, vida, bela, isto, aquilo, aceitamos algo puramente representativo, mero “conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social, a fim de permitir o exercício da linguagem, por parte do indivíduo”, ainda conforme Câmara Jr.
Sem o “substratum” lingüístico, não há leitura, porque os símbolos impressos nada significariam para o leitor.
Palavras são símbolos e não têm significação por si mesmas. O sentido que o leitor lhes empresta depende de sua experiência de vida. A iniciação da leitura, as palavras dos textos devem provir do próprio vocabulário infantil. Como verdadeiros estímulos que são, essas palavras evocam imagens de experiências anteriores.
O gosto pela leitura deve ser desenvolvido na infância. A criança que tem contato com livros, que em casa vê seu pai e/ou sua mãe lendo com freqüência, tem noventa por cento de chances de ser uma amante da leitura quando crescer. Assim sendo, a partir do próximo número passaremos a enfocar um pouco mais a relação criança/leitura.

A PALAVRA CRÔNICA
Este ano completam-se 40 anos da edição do livro Singradura, a primeira das tantas obras de Flávio José Cardozo, jornalista e escritor catarinense. São 20 contos que se unificam na temática homem-mar e no cotidiano da gente simples desta ilha de Santa Catarina. Figuras como o músico Mané Flor, Marinês, Marcelina e Marília, que protagoniza o conto que dá nome ao livro, passeiam pelas páginas e nos oferecem o drama e a alegria de viver aqui. Mas, ao mesmo tempo são histórias tão universais que poderiam acontecer em qualquer lugar do mundo.
A pena certeira de Flávio ao narrar estas vidas catarinas tem simplicidade e profundidade em equilíbrio. E nesse olhar sobre o dia-a-dia das gentes, concretizado em contos e crônicas, se revela o olho do jornalista. Aquele que vê a vida em movimento e que percebe a história humana em cada fato aparentemente comum da vida que escorre pelos dias.

O Sindicato dos Jornalistas, no projeto Círculo da Palavra, no próximo dia 28, às 19 horas, no Plenarinho da Assembléia Legislativa, presta uma homenagem a esse importante cronista catarinense e ao mesmo tempo busca um diálogo com estudantes e jornalistas, na discussão da crônica, gênero literário, mas também jornalístico, que tão bem Flávio usa para narrar a vida.
Flávio José Cardozo nasceu dentro do círculo do carvão, na pequena Lauro Müller, em 1938. Cursou Jornalismo na PUC/RS. Durante vários anos ocupou o espaço da crônica no jornal Diário Catarinense. Em 1965 venceu o Concurso Universitário de Contos em Porto Alegre; em 1967 o Concurso Nacional de Contos em Florianópolis; em 1968 o I Concurso Nacional de Contos em Curitiba; e em 1977 o Concurso Remington de Literatura no Rio. Seu primeiro livro de contos publicado foi "Singradura" (1970). Em 1978 lançou "Zélica e Outros". Ambos são ambientados na ilha de Santa Catarina, num tempo "mais ingênuo", em que a ilha ainda não era um pólo turístico agitado. O autor retrato com profundidade a condição humana e suas paixões mais elementares. Seus outros livros publicados são "Água do pote" (1982 - crônicas), "Sobre sete viventes" (1985 - crônicas), "Longínquas baleias" (1986 – contos), "Beco da lamparina" (1985 – crônicas), "Sofá na rua" (1988 – crônicas), "Tiroteio depois do filme" (1989 – crônicas) e "Senhora do meu desterro" (1991 – crônicas). Publicou também um romance, “Guatá”, que abre-se para o mundo mineiro, de onde saiu. Flávio José Cardozo é membro da Academia Catarinense de Letras.

PARA LEMBRAR – O acento diferencial continua valendo: a) no verbo PÔR, para diferenciar da preposição POR. Exemplo: Maria vai PÔR um fim no namoro; b) no verbo PÔDE (passado), para diferenciar de PODE (presente). Exemplo: Kaká PÔDE jogar ontem.

CLÁUDIO MANOEL DA COSTA– (1729-1789) Nasceu em Mariana, Minas Gerais. Tomou o nome arcádico de Glauceste Satúrnio. Obra poética: Minúsculo Métrico, 1751; Epicédio e Labirinto de Amor; Números Harmônicos e Culto Métrico, 1753; Obras, 1768; Vila Rica, 1813. Suas Obras foram reeditadas por João Ribeiro em 1903.

PONTO DO POETA

As curvas da Enseada
desdobram teu todo
em curvas dos olhos,
da Ilha, dos medos.

As curvas do tempo
encontram nas alvas,
no mistério do ventre,
escorpiões sem garras.

As curvas da Enseada,
vistas por sobre o sonho
te desnudam, te orvalham,
te fazem Senhora minha
nesta Desterro alcova.

(Enseada, pg. 29, Minha Senhora do Desterro)