segunda-feira, 14 de março de 2011

TODO DIA É DO POETA E DA POESIA

Hoje é dia do poeta. Um dia como outro qualquer, porque na minha opinião “o dia” em que se comemora alguma profissão, alguma classe, alguma área do conhecimento ou das relações humanas e sociais é uma comemoração pró-forma. Todos os dias são dias de todos. Ao fazermos as coisas que nos cabem de maneira correta, com esmero, com profissionalismo, com amor, sem vaidades, sem mentiras, sem querer levar vantagens sobre o próximo, nosso dia-a-dia torna-se o nosso dia, sejamos médicos, lixeiros, pais, engenheiros, professores, bibliotecários, administradores, advogados, jornalistas, políticos, mães, filhos, donas de casa, mulheres, homens, gays, astronautas, pescadores, coveiros, etc., etc., etc.
E por pensar assim, aí vão mais alguns fragmentos e outros poemas, porque todos os dias devem ser dias de poesia:

I- COPACABANA (Leatrice Moellmann) *

Durante décadas, Copacabana,
Sorvi o clima que de ti emana.
São tantas as lembranças, são pedaços
De vida, alegrias e cansaços.

Anos dourados, mas labuta insana
Foi minha vida em Copacabana.
Na praia a areia, o mar, grandes espaços,
Em casa minha filha nos meus braços.

Topar nas ruas com celebridades,
Os camelôs, as feiras... que saudades!
Olhar vitrinas sem poder comprar.

Festejar futebol nos campeonatos,
Viver em paz, gozar tempos pacatos...
Meu coração não pode te olvidar.

II- O CLAUSTRO INTERIOR (Júlio de Queiroz) *

Então, é esta a tarefa de toda a vida:
Fazer sem o querer; matar o desejo.
Amar, pelo amor, até mesmo o mais vil.
Beijar a ferida mortal mais abjeta no transbordamento
do amar.
Buscar sem buscar; amar a caminhada;
Transformar pedras ossudas em pétalas macias
Por nenhum outro motivo a não ser compartilhar o amor
..........................................................................................

III- EMIGRADO ( Emanuel Medeiros Vieira) *

Emigrados:
seremos sempre,
emigrados.

Em busca de um outro mar,
da última ilha,
seguindo os pássaros,
atrás do último pássaro.
De um mar a outro,
de uma ilha outra ilha,
e, então, dormiremos,
uma noite sucedendo-se outra.


IV- MISTICISMO NO MORRO (Alzemiro Lídio Vieira) **

Ele vai subindo o morro,
vai levando seu gingado,
na insistência de viver.
Na distância o cintilante
numa visão multicor.
É malandro, é amante,
sabe muito de amor.

V- DE MINHAS BRUXAS (Artêmio Zanon) **

A bruxa em sua vassoura mágica vivia
No meu mundo infanteiro em avoentos ares:
- À noite – era eu medroso! -, enorme parecia,
Tão enorme que já me punha em vãos cismares.

Quando o vento das frôndeas se debatia
Acreditava eu fosse a bruxa em seus penares;
Ficava, então, ansiando pela luz do dia
A falta de candeias, estrelas, luares...

Às vezes o latir de um pervagante cão,
Mais me deixando aflito no cenário estranho
Fazia-me recitar inocente oração.

Agora que confesso esses fatos de antanho
Sinto uma força que me toma o coração
E na poesia, creio, plenitude ganho.



VI- DOENÇA E CURA (Péricles Prade) ***

O livro de poemas
na mão esquerda, o de contos
na mão direita, e sobre a cama
solteira, o romance,
aquele de 500 páginas,
na cabeceira transformado
em mágica montanha.

Eis a doença
e sua cura, a mente prisioneira
na estante que flutua.


VII- POEMA IMPOTENTE (Pinheiro Neto) ****

Por que o verso
tão fraco?

Por que o verbo
tão covarde?

Meu povo chora
o choro do desalento;
meus velhos choram
pelos seus moços
meus moços choram
pelos meus velhos.

Por que a impotência
do poema?

(* - Revista DA Academia Catarinense de Letras, nº. 23; ** Antologia Literária de “O Trinta Réis”, da Academia São José de Letras, vol 1; *** Sob a faca giratória, 2010, Papa Terra editora; **** A rosa do verso, 1988, Cepec editora)

Um comentário:

  1. Caro Poeta,
    De todos os seus poemas seus deste Blog, este foi o q mais gostei. Diante de tantas "impotências" seguimos adiante: O corajoso até pode cansar, mas não se emtrega!
    Abraços, Paulo Berri - ASAJOL/ACPCC/ACLA

    ResponderExcluir