quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Confraria da Leitura-pn Edição 30

E pra torcida do Flamengo? Aquele abraço!

MIchelle Christie Olsen(*)

Somos pessoas desconfiadas. Procuramos nos informar, lemos jornais, blogs, páginas na internet. Procuramos interagir, entramos em redes sociais, frequentamos bares, passeamos com amigos e familiares, viajamos. Em cada ponto, em cada canto, deparamo-nos com algo assustador, algo que quebra a ordem natural das coisas, ficamos apreensivos, inseguros, nos sentimos impotentes, desmotivados e, por vezes, acabamos evitando lugares, leituras ou o que nos abalou.

Não raro ouvimos algo como “não dá mais para almoçar fora”, por conta de seguidos assaltos à mão armada em restaurantes em que costumávamos ir; ou “ não há mais segurança nem em casa”, devido a outros tantos assaltos; ou ainda “não há tranquilidade em deixar o filho na escola”, por conta de crianças armadas, desestruturadas que buscam consolo descarregando suas frustrações nas outras crianças. E tudo sempre exposto com detalhes, com fotos, com requintes. O assaltante morto só tinha 13 anos, o garoto que se matou na escola tinha 10 anos apenas e queria matar a professora, o cara se matou no fórum e espirrou sangue nas moças que trabalhavam ali.

Às vezes é difícil acreditar que a vida possa tomar outro rumo, que ainda há algo a mais no ser humano do que mesquinharia, corrupção, safadeza.
Então, num sábado qualquer, tomando um chopp da Heineken no Mercado Público com o maridão, assistindo (a contragosto) ao jornal do meio-dia, vejo uma matéria com um casal que tentava algo diferente. Eles estavam no calçadão da Felipe Schmidt segurando uma plaquinha “Abraço Grátis” e faziam exatamente o que prometiam no anúncio (coisa rara na publicidade de hoje).

Jovens, idosos, bonito ou feio, gordo ou magro, crianças sorridentes, adolescentes com cara de malaco, mal vestido ou elegante, não tinha nenhuma exceção, nenhum preconceito, abraçavam quem quisesse deles um abraço. Tal demonstração de coragem (sim, porque somos muito desconfiados), de afeição a todos que cruzam nosso caminho e estão dispostos a tal afeto, é de deixar qualquer um de queixo caído. Um ato simples, aparentemente, que qualquer um poderia fazer igual (mentira, sabemos que somos incapazes), mostra-nos uma outra fraqueza, aquela que tanto criticamos e da qual também sofremos, da gentileza com um desconhecido, gratuita em todos os aspectos. Generosidade essa capaz de mudar o curso das coisas, mudou meu sábado, meus pensamentos pessimistas, meu olhar para o calçadão cheio de ameaças e surpresas.

(*) Esta é a primeira crônica da autora, filha do meu amigo Oldemar Olsen Jr.. É um privilégio para este blog publicá-la.

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A C L PROMOVE SIMPÓSIO CRUZ E SOUSA



Integrada às celebrações do sesquicentenário de nascimento (1861) do poeta catarinense Cruz e Sousa, introdutor do Simbolismo no Brasil, a Academia Catarinense de Letras (ACL), nos próximos dias 16, 17,18 e 19, promove um simpósio sobre a vida e a obra do artista. Para tanto, com apoio da Fundação Catarinense de Cultura, reunirá em Florianópolis alguns dos maiores especialistas no tema para palestras e debates abertos ao público na sede da ACL (Avenida Hercílio Luz, 523, Centro).

Dia 16 (quarta-feira)
Às 19 horas:
Godofredo de Oliveira Neto: “Vida e obra de Cruz e Sousa: aspectos fundamentais”
Mediador/debatedor: Celestino Sachet
Às 20h30min
Luiz Augusto Contador Borges: “O erotismo na obra de Cruz e Sousa”
Mediador/debatedor: Péricles Prade

Dia 17 (quinta-feira)
Às 19 horas
Álvaro Cardoso Gomes: “Música e evocação em Cruz e Sousa”
Mediador/debatedor: Leatrice Moellmann
Às 20h30min
Eliane de Alcântara Teixeira: “A estética do feio na prosa poética de Cruz e Sousa”
Mediador/debatedor: Júlio de Queiroz

Dia 18 (sexta-feira)
Às 19 horas
Uelinton Farias Alves: “Vida e obra de Cruz e Sousa: novos ângulos”
Mediador/debatedor: Artêmio Zanon
Às 20h30min
Carlos Felipe Moisés: “A prosa poética de Evocações”
Mediador/debatedor: Dennins Radünz

Dia 19 (sábado)
Às 19 horas
Cláudio Willer: “Cruz e Sousa, poeta maldito?”
Mediador/debatedor: Rodrigo de Haro
Às 20h30min
Ronald Augusto: “A poética de Cruz e Sousa hoje”
Mediador/debatedor: Zilma Gesser Nunes
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A SUBIDA

Publicado pela Casa Editora Espírita “Pierre-Paul Didier”, em junho passado, o romance A Subida: a transição do ódio para o amor, é o novo trabalho literário de Júlio de Queiroz.
Transcrevo a seguir o texto do próprio autor, publicado no livro às páginas 9 e 10, por considerar o mais apropriado para este pequeno registro que faço. Acredito mesmo que o propósito de Júlio tenha sido o de introduzir o autor no contexto da novela.
“Na Antiguidade histórica, o mundo hebreu, conquistado militarmente pelo Império Romano, constituía-se de várias regiões vizinhas ente si (Idumeia, Judeia, Samaria, Galileia, Decápolis e Pereia). Os moradores dessas regiões referiam-se às suas viagens obrigatórias ao Templo de Salomão, em Jerusalém, determinadas pelo ritual religioso, como sendo “a subida”, pois Jerusalém está cerca de 600 metros acima do Mar Mediterrâneo.
Em hebraico, subida se diz aliah (aliá).
A intransigência todo-poderosa do poderio romano foi irredutível contra um levante judeu entre 65 e 70 d.C e fadado à derrota. Destruiu o Templo de Salomão, extinguiu o resto da liberdade nacional e dispersou o povo hebreu para todos os países então conhecidos e, posteriormente, para todos os continentes. A expressão “a subida” passou ter dupla significação: tanto ir ao púlpito das sinagogas para ler um trecho da Tora, o livro religioso, quanto designar o retorno ao lar espiritual de todos os judeus, simbolizado pela cidade de Jerusalém.
Enquanto no que os judeus chamam de “exílio” (mesmo que este seja o país em que eles e seus antepassados tenham nascido), no término da mais venerada cerimônia do ano litúrgico judaico – Pessarr – a Passagem -, seus participantes despedem-se uns dos outros com a saudação: “Ano que vem em Jerusalém – Leshana Habas Bliyerushalaim”.
Com a reinstalação do Estado de Israel 2000 anos depois de sua estinção geográfico-nacional, “fazer a subida” passou a significar a emigração para Israel.
Esta novela relata a dolorosa passagem do ódio para o amor, evolução espiritual indispensável a todos os humanos.”


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PONTO DO POETA

ESBOÇO RHO II

Injetei teu nome
em minha veia
viajei!

Injetei teu corpo
em minha artéria
alucinei!

(Pinheiro Neto LM.,2010)

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Confraria da Leitura-pn Edição 29

NOVO LIVRO DE DAVID

Recebi pelo correio “A princesa e o anjo negro” , devidamente autografado, o mais novo livro de contos de David Gonçalves, um escritor catarinense dos mais destacados no cenário nacional. Tenho a honra de considerá-lo meu amigo.
No formato “de bolso”, lançado pela editora Sucesso Pocket de Joinville, o livro reúne quinze excelentes contos escritos, segundo o autor, “no começo deste século”. Listo porque considero importante todos os quinze, sem ressaltar os que mais gostei: Algo rói dentro do peito; Florisbela e o jardim de ervas; A mulher barbada; Casa de Mulheres; A volta que o mundo dá; Sapatos de capim; Estranha e indesejada visita; Maria Sucuri; A montanha se move; O sol caía alaranjado, Ninguém traz uma estrela na testa; Homens e pássaros; Geada negra; Emboscada; e o conto que dá nome ao livro, A princesa e o anjo negro.
Sou um fã do que David escreve. Aprecio muito seus textos. Eles me prendem à leitura, incitam à continuidade, promovem a transgressão do tempo disponível. Envolvem e permitem a participação do leitor enquanto co-autor das histórias.

Um pouco sobre David

David não é catarinense de nascimento; nasceu em Jandaia do Sul, no vizinho Estado do Paraná, mas reside em Joinville, onde despontou para a literatura, há tanto tempo que não pode mais deixar de ser considerado como “um bom catarina da cepa”.
Professor universitário e consultor de empresas, ministra cursos e palestras sobre literatura, comunicação, liderança e marketing. Filho de pequenos agricultores, conviveu com os trabalhadores rurais e, dessa convivência, mantida até hoje, extrai a sua força literária. Seu primeiro livro [1972], o romance “As flores que o chapadão não deu”, foi recolhido pelo regime militar e permaneceu 16 anos na gaveta.Hoje está na sétima edição. Sua tese de mestrado, “Atualização das formas simples em ‘Tropas e boiadas’, livro de Hugo de Carvalho Ramos, orientada por Gilberto Mendonça Teles, é indispensável aos estudiosos de Literatura, Folclore e Comunicação.

Regionalismo

Nesse novo livro de contos, David inclui uma nota pessoal sobre uma discussão que há muito vem permeando os comentários e críticas a respeito da obra literária que produz: é regionalista ou não?
Diz David: “Cansei-me de ouvir que o regionalismo está ‘morto’, que se esgotou como fonte literária etc. Confesso que sou filho de Hugo de Carvalho ramos, Simões Lopes, Valdomiro Silveira, Monteiro Lobato, Mário de Andrade, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, João Guimarães Rosa, Bernardo Elis e outros. Nunca me subjuguei a modismo. Escrevo, enfim, sobre o homem da minha aldeia. Quadrínculo é o palco de todas as paixões possíveis. A realidade e o estranho se unem de uma forma única e grotesca. Este país rural, que passa hoje por uma revolução tecnológica, me encanta e, ao mesmo tempo, me deixa constrangido. O êxodo rural ainda não se findou e as periferias das grandes cidades estão cada vez mais inchadas e violentas. Escrevo, pois, sobre os deserdados da vida. Se o que faço é regionalismo, não sei. A riqueza e a miséria estão a olhos vistos, por todos os lados.”

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HOMENAGEM

Manoel Inácio da Silva Alvarenga (1749-1814), na Arcádia Alcindo Palmireno, nasceu em Vila Rica. Poesia: O Desertor, 1774; Glaura, 1799. J. Norberto de Souza e Silva reuniu as Obras Poéticas em 1864. Em 1948, edição de Glaura por Afonso Arinos de Melo Franco (INL).

O JASMINEIRO

RONDÓ XI


Venturoso Jasmineiro,
Sobranceiro ao claro Rio,
Já do Estio o ardor se acende,
Ah! Defende este lugar.

Ache Glaura na frescura
Destas penhas encurvadas
Moles heras abraçadas
Com ternura a vegetar.

Ache mil e mil Napéias,
E inda mais e mais Amores,
Do que mostra o campo flores,
Do que areias tem o mar.

Venturoso Jasmineiro,
Sobranceiro ao claro Rio,
Já do Estio o ardor se acende,
Ah! defende este lugar.

Branda Ninfa que me escutas
Desse monte cavernoso,
Nem o raio luminoso
Nestas grutas possa entrar.

Hás de ver com dor, e espanto,
Como pálida a Tristeza
Dos seixinhos na aspereza
Faz meu canto congelar.

Venturoso Jasmineiro,
....................................

(Glaura, Lisboa, Oficina Nunesiana, 1799, págs. 44-47

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INTERNATIONAL WRITERS

A IWA – International Writers and Artists Association – foi fundada em 1978. Em 1998, quando completou 20 anos de existência, organizou um evento para comemoração no Rio de Janeiro, onde compareceram membros de muitos países, como Japão, Grécia, Bósnia, Colômbia, Uruguai, Argentina e mais de duzentos membros brasileiros.
A sede da IWA é em Toledo, Ohio, nos Estados Unidos, e a língua oficial é o Inglês. Opera, entretanto, também em Francês, Italiano, Espanhol e Português.
A diretoria da IWA é composta por integrantes de diversos países, como a República Checa, a Rússia, Cuba, USA, Turquia, Tunísia, Algéria, Coréia, Japão, etc., com representante inclusive junto à UNESCO.
A IWA apoia os direitos e liberdades da Declaração Universal dos Direitos Humanos para todos os povos, no mundo inteiro. Além disso respeita a compreensão de todas as culturas e tradições étnicas, liberdade de expressão e diversidade nos limites de um mundo justo. Mais fundamental do que a liberdade de expressão e diversidade é para a IWA a rejeição do racismo, sexismo, tribalismo e preconceito pela idade, com o empenho em cultivar os valores que levam à realização da felicidade do ser humano.
Entre as atividades da IWA estão as nomeações para o Prêmio Nobel da Paz e para o Prêmio Nobel de Literatura, nomeações para o Prêmio de Ativista da Fundação Gleitsman, de anunciar e apoiar os congressos de Literatura e Arte por outras organizações que oferecem prêmios para os melhores escritores e artistas. A IWA também reconhece o valor e presta homenagem aos escritores e artistas anônimos.
A IWA possui atualmente 1500 membros em 132 países, incluindo príncipes, lords, escritores com Prêmio Nobel da Paz e da Literatura, ex-presidentes, acadêmicos e imortais. Alguns exemplos: Príncipe di Cnosso e di Manzanille, da Itália; Marquês K. Vella Harber, Malta; Fidel Castro Ruz, Cuba; Eduardo Galeano, Noan Chomsky, Toni Morrison; Ariano Suassuna, Fernando Henrique Cardoso, Thiago de Mello, Frei Beto, Leonardo Boff, Isabel Allende, Rigoberta Menchú, dentre inúmeros.
A IWA tem como presidente Teresinka Pereira, escritora brasileira, residente e domiciliada em Ohio, nos Estados Unidos.
Website: http://internationalartistwritersassociation.blogspot.com/

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PONTO DO POETA


Meu ser
meu poder
meu ter
vão buscar a vontade
de trazer teu corpo
pra cicatrizar
a vontade
de amar
ou não.

(Pinheiro Neto LM., set/2011)