PAPO NA CONFRARIA: COM OLSEN JR.
O que te motivou a
escrever?
Num
primeiro momento foram as leituras... Mais tarde, aos 13 anos a vontade de
escrever as minhas próprias histórias.
Cite os três livros (e
respectivos autores) mais significativos em tua vida?
Melhor
citar logo os autores: Hans-Christian
Andersen (obra em cinco volumes) mesmo considerando que algumas metáforas
de suas narrativas (O Patinho Feio, por exemplo) só foram percebidas mais
tarde; José Bento Monteiro Lobato
(todos os 17 volumes da obra infantil que originou a série “O Sítio do Pica pau
Amarelo”) e Karl May (os 30 volumes traduzidos
e publicados pela Editora Globo de Porto Alegre) em especial os três primeiros
volumes da saga “Winnetou”...
Indique um livro
(literatura brasileira) para leitura de: a) alunos do Ensino Fundamental –
quinta a oitava séries; b) alunos do Ensino Médio e c) Alunos do Ensino
Superior.
Ensino
Fundamental, o Monteiro Lobato continua dando o recado, qualquer um dos livros,
talvez escolhesse “Reinações de
Narizinho”; no Ensino Médio, Lima Barreto e “Os Bruzundangas”; no Ensino
Superior “Abraçado ao meu Rancor”, do amigo João Antônio... Citei estas obras, mas poderia escolher
outras destes mesmos autores.
Como se dá o processo da
escrita em tua prática cotidiana?
Primeiro
quero dizer que escrevo porque não sei fazer outra coisa. Se for (é) uma necessidade
então, o método pode ajudar a sistematizar o trabalho. Sou sartriano, isso
significa que não abro mão de um Projeto que é anterior a qualquer outra
iniciativa. Após definir o que pretendo, então sim, mãos à obra, trabalho e
mais trabalho... Não quer dizer que este “Projeto” inicial não seja alterado,
sempre é, mas dentro de uma meta definida antes, isso inclui um começo, meio e
fim... Não há “pontas soltas” no que escrevo...
Fale sobre o apoio
dispensado pelos setores públicos e privado à literatura.
Falando
sério, tenho piedade destes indivíduos (a categoria é sartriana) que se atrelam
ao Estado ou qualquer outra espécie de poder para realizar sua arte. Escrevo
porque é impossível não fazê-lo e isso independe da ingerência de qualquer
instância seja ela pública ou privada. Evidentemente que se houvesse uma
política cultural para as letras, o trabalho seria melhor distribuído em
decorrência mais conhecido e isso facilitaria... Nunca é demais acrescentar que uma arte que
se submete a qualquer espécie de poder (o econômico é apenas um deles) não vale
a tinta que se gasta para falar dela... Em SC bastaria cumprir as Leis que já
existem, para citar duas, a “Lei Grando” como ficou conhecida, que estipula a
aquisição pelo governo do estado de 300 exemplares das obras de autores
(selecionados por uma comissão, a Cocali – Comissão Catarinense do Livro,
vinculada à Fundação Catarinense de Cultura) para serem distribuídos nas escolas...
Também a exigência (está na Lei) de se fazer um Jornal Cultural (dez edições
por ano) e distribuído/encartado no Diário Oficial para todo o estado, deveria
ser “O Catarina”, mas não é...
Fale sobre o papel das
Academias de Letras em relação à língua e à literatura.
Vamos
falar da nossa Academia, a ACL... Vivemos novos tempos, não cabe mais uma
Instituição que exista apenas para a satisfação de seus associados em nela
ingressar, enriquecer currículos e outras buscas de fruições passageiras... A
Academia poderia funcionar como um órgão consultivo para assuntos ligados a sua
própria natureza, ou seja, às letras... Sugerindo que se criasse uma disciplina
de caráter obrigatório de literatura catarinense para os alunos do Ensino
Fundamental, por exemplo... Ou oferecendo as bases para a existência de um
Instituto Estadual do Livro, nos moldes que se faz no vizinho estado do Rio
Grande do Sul, para se pensar o livro, as feiras, a publicação, distribuição e
fruição do que se produz literariamente aqui em Santa Catarina... Mas para isso
precisamos primeiro organizar a Casa para depois fazer sugestões... Não é
verdade?
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ALÉM DO FUTURO
Vou te
procurar
além do
futuro
deslizando
entre estrelas
ou em
caminhos bifurcais
Se te
encontrar e quando
nas estrelas
estiveres voando
te falarei
desta procura
és a paixão desta
loucura
Falaremos das
serás que vivemos
das
metempsicoses que sofremos
mãos dadas,
vagaremos pelos tempos.
Nas surdas
asas do vento...
(Vany
Campos in Poemas à flor da pele, vol. 5, Ed. Somar, p. 183, 2012)
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UMA CONFRARIA
DE TOLOS
Por
indicação do amigo Roberto Telles Ferreira
li recentemente “Uma confraria de
tolos”, o único romance escrito por
John Kennedy Toole.
Nascido
em Nova Orleans em 1937 e falecido em 1969, formou-se em inglês na Columbia
University e lecionou no Hunter College e na University of Southwestern
Louisiana.
O
romance foi escrito no início dos anos 1960, mas Toole não obteve sucesso nas
diversas tentativas de publicá-lo. Deprimido, cometeu suicídio. Foi por
insistência da mãe, que acreditava no talento do filho, que esse livro alcançou
o sucesso merecido. Ganhou o Prêmio Pulitzer de ficção, em 1981.
O
livro é apresentado por Walker Percy que, na verdade, resolve relatar como, em
1976, quando era professor em Loyola, se
deu o primeiro contato com os originais do romance. É muito interessante. Naquela ocasião, conta
ele, comecei a receber telefonemas de uma senhora que não conhecia. Ela queria
algo absurdo. Não era que tivesse escrito alguns capítulos de um livro e
quisesse assistir às minhas aulas. Era que o filho, já falecido, havia escrito
um romance no início dos anos 1960 – segundo ela, excelente – e queria que eu o
lesse. “Por que deveria lê-lo?”, perguntei. “Porque é um grande romance”,
respondeu-me.
Com
o passar dos anos, eu havia me tornado muito bom em evitar tarefas
indesejáveis. E se havia algo que eu definitivamente não desejava fazer era
isto: lidar com a mãe de um romancista morto e, pior de tudo, ter que ler o
original do que ela dizia ser um grande
romance e que, como logo descobri , consistia em uma cópia a carbono tão
borrada que era quase ilegível.
Mas
a senhora era persistente e, não sei como, acabou conseguindo chegar ao meu
escritório para entregar o volumoso manuscrito,. Não havia mais escapatória,
mas ainda me restava a esperança de que ao ler as primeiras páginas, elas
fossem tão ruins que, com a consciência tranquila, não me sentiria obrigado a
prosseguir a leitura. Em geral é o que faço. Na maioria das vezes, basta o
parágrafo inicial. Meu único medo era que este não fosse assim tão ruim, ou
fosse suficientemente bom para que eu tivesse que continuar a ler.
Sendo
este o caso, continuei lendo. E lendo. Primeiro, decepcionado ao constatar que
o romance não era ruim o bastante para ser posto de lado, depois, com certo interesse,
com um entusiasmo crescente e, por fim, com incredulidade: não era possível que
fosse tão bom! Vou resistir à tentação de dizer o que primeiro me deixou
boquiaberto, o que me fez sorrir, soltar uma gargalhada ou balançar a cabeça,
maravilhado. É melhor deixar que o próprio leitor descubra.
De
qualquer modo, temos aqui Ignatius Reily, sem antecessores em qualquer
literatura que eu conheça – tolo extraordinário, um misto do louco Oliver
Hardy, do gordo e o magro, do Dom Quixote e do perverso Tomás de Aquino -,
profundamente revoltado com toda a Idade Moderna, em seu camisolão de flanela,
num quarto de fundos em Nova Orleans, que, entre intensos ataques de
flatulência e de arrotos, enche dezenas de cadernos com suas invectivas.
A
mãe acredita que ele precisa ir trabalhar. Ele vai, em uma sucessão de
empregos. Cada emprego se transforma rapidamente em uma aventura lunática, em
um desastre retumbante; e mesmo assim, como um Dom Quixote, cada uma tem a sua
lógica misteriosa.
A
namorada, Myrna Minkoff, do Bronx, acha que ele precisa de sexo. O que se passa
entre Ignatius e Myrna é diferente de todas as histórias de amor que já li.
De
forma alguma uma virtude menor do romance de Toole é a recriação das
particularidades de Nova Orleans, suas ruelas, os bairros afastados, seu
linguajar, os brancos enquanto grupo – e um negro no qual Toole alcançou quase
o impossível, um personagem de incrível comicidade no seu desembaraço, sem o
menor resquício de estereótipos.
Mas
a maior proeza de Toole é o próprio Ignatius Reilly, intelectual, ideólogo,
malandro, simplório e glutão, que deveria provocar repulsa no leitor com suas
bebedeiras descomunais, seu completo desprezo e sua luta solitária contra todo
mundo – Freud, os homossexuais, os heterossexuais, os protestantes e os
inúmeros excessos dos tempos modernos. Imaginem um Tomás de Aquino arruinado,
transposto para Nova Orleans, de onde parte para uma feroz incursão pelos
pântanos até um banheiro masculino em Baton Rouge, onde seu casaco de couro é
roubado enquanto ele está absorto em seus avassaladores problemas
gastrointestinais. Sua válvula pilórica se contrai periodicamente em protesto
pela ausência de “geometria e teologia adequadas” no mundo moderno.
Hesito
em utilizar o termo comédia – embora
se trate de comédia – porque o resumiria apenas a um livro engraçado, e este
romance é muito mais do que isso. Uma farsa retumbante nas dimensões de um
Falstaff talvez o definisse melhor – commedia
seria um termo mais apropriado.
É
também um romance triste. Nunca se sabe ao certo de onde vem a tristeza: se da
tragédia implícita por trás da ira gasosa de Ignatius e suas alucinadas
aventuras ou da tragédia que perpassa o próprio livro.
A
tragédia do livro é a tragédia do autor – seu suicídio em 1969, aos trinta e
dois anos. A tragédia está nas obras que ele poderia ter produzido e nos foram
negadas para sempre.
É
realmente uma pena que John Kennedy Toole não esteja vivo e escrevendo. Mas, já
que não está, só nos resta fazer o possível para que esta pantagruélica e
tumultuada tragicomédia humana esteja ao alcance de um mundo de leitores.
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MINIFÚNDIO IV
se guardas a
memória
na memória
anterior à
palavra
e à história
então
entenderás
o arrepio
que te habita
ao rever
a larva da
borboleta
sob a folhagem
da couve-flor
(Lindolf
Bell, Edições Sanfona, Floripa, 1985)
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REGISTRO
1-
Jornal “O Nheçuano” ano 3, número 14,
agosto/setembro de 2012, da cidade de Roque Gonzáles, que tem como editor,
redator e diagramador o jornalista Marco Marques. Destaque para a reportagem
sobre o centenário de Jorge Amado e a seção Autores & Livros sob a
responsabilidade impecável de Inês e Nelson Hoffmann.
2-
Boletim do Instituto Histórico e Geográfico
de Santa Catarina (nºs. 165, 166 e 167/2012). Destaque para a página 8 sobre
Historiadores de Santa Catarina. Francisco José Pereira é homenageado de julho
e Iaponan Soares de Araújo de agosto.
3-
De
David Gonçalves recebo 4 livretos, cada um com um conto e ilustrações
específicas, cuja destinação é para alunos do 5º ao 9º anos escolares. Adorável margarida,A vaca no quarto andar, A
mulher barbada e Por seus olhos foram os que recebi. Faltou Sapatos de capim.
São histórias muito interessantes,
que receberam um tratamento gráfico e
visual diferenciado, escolhidas a dedo pelo autor e que apresentam um David
“mais leve, mais humano”, preocupado em mostrar um lado que parecia guardado
até este momento, isto é, o autor preocupado com um tipo específico de leitor:
o estudante do ensino fundamental que começa a forjar seu futuro espírito
leitor.
4- De Artêmio Zanon,
mais dois livros de poemas: Somos pouco
todos nós e Minhas horas cristãs.
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CONFRARIA DO POEMA-pn
A
carne sa(n)grando
expõe
verso impotente.
Do
pulso cortado
jorra
poesia:
navalha
poética.
Meus
versos
passeiam
pelo shopping:
inspiram.
Trago
meus poemas
na
bandeja:
degusta-os!
(Nano poemas III, Pinheiro Neto, Poemas à flor da pele, p. 142, 2012)
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