PAPO NA CONFRARIA: FLÁVIO JOSÉ CARDOZO(*)
(O escritor, após palestra em Criciúma, em companhia da Bibliotecária Michelle Pinheiro)
1- O que te motivou a escrever?
Acho isso meio misterioso. Claro
que nada teria acontecido se eu não tivesse adquirido bem cedo o gosto pela
leitura. Na origem de tudo, penso que está a curiosidade por aquele mundo de
fantasia oferecido nos livros e, em certo momento, o impulso de também querer
fazer. Foi algo espontâneo e inexplicável que surgiu não sei de onde e para
ficar. Aí veio o aprendizado (se é que tenho aprendido) - um processo lento,
sem fim.
2 - Cite os TRÊS livros (e respectivos
autores) mais significativos em tua vida?
Por justiça, deveria citar os livrinhos fundamentais da escola primária
que me revelaram o poder e a beleza da palavra escrita. Quanta leitura
importante foi acontecendo a partir deles, quantos livros e autores podiam ser
citados! Mas a pergunta pede três, só três livros que me marcaram de um modo
especial no correr da vida. Então são eles, em três escalas: na literatura
universal, o Dom Quixote (Cervantes);
na literatura brasileira, Grande sertão:
veredas (Guimarães Rosa) e, na literatura catarinense, Homens e algas (Othon d´Eça).
3 - Indique um livro (Literatura
Brasileira) para leitura de:
a) Alunos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries)
b) Alunos do Ensino Médio
c) Alunos do Ensino Superior
Aproveito a oportunidade para ressaltar a necessidade de se divulgar nas
nossas escolas a literatura que se faz em Santa Catarina. Minha escolha vai ser
restrita a ela.
Assim, para os alunos do Ensino Fundamental, indico um dos livros de
Maria de Lourdes Krieger – digamos Vovó
quer namorar.
Para os alunos do Ensino Médio, o romance São Miguel, de Guido Wilmar Sassi.
Para os do Ensino Superior, Ecos do
porão, de Silveira de Souza.
4- Como se dá o processo da escrita em
tua prática cotidiana?
Conheço gente que traça um
roteiro de trabalho e não se afasta dele, aconteça o que acontecer. Me falta
disciplina, eu gostaria de ser mais trabalhador. Meu processo é vagaroso e
sofrido. Adquiri, por exemplo, o péssimo costume de escrever e já ir querendo
que cada página fique acabada. Creio que se eu fosse um profissional, com metas
e compromissos a cumprir, seria bem mais ágil. Os quase dez anos de crônica
diária me fizeram trabalhar sob pressão – e funcionou. Bem que podia ser assim
nos outros gêneros...
5- Fale sobre o apoio dispensado pelos
setores público e privado à literatura.
O grande apoio à literatura
está certamente no apoio que o poder público, as instituições, as empresas etc.
podem dar ao fomento da leitura nas escolas. A criação de bibliotecas escolares
e públicas, a implantação de programas de difusão do livro, a capacitação de
professores, o acesso de escritores aos estabelecimentos de ensino, a promoção
de eventos escolares centrados no livro – tudo isso, que não é mais caro do que tantas inutilidades patrocinadas por
aí, conquistará crianças e jovens para a palavra escrita, vale dizer para o
exercício da imaginação, para a agilização da mente, para o desafio a
pensamentos próprios, para a revelação e a observação crítica do mundo e de
seus valores. Todas as outras formas de apoio oficial e privado são
importantíssimas, mas criar lá na base, de verdade, um lugar para a leitura na
vida dos estudantes é o que mais pode interessar à literatura e aos seus
autores.
6- Fale sobre o papel das
Academias de Letras em relação à Língua
e à Literatura?
Está nos objetivos das
academias de letras divulgar a literatura e zelar pela língua nacional. Nesse
sentido, elas podem atuar como efetivos instrumentos de informação e de
formação. A Academia Catarinense de Letras tem sido, nos últimos anos, bastante
ativa nesse sentido, seja reeditando obras importantes que estavam esgotadas,
seja facilitando a edição de obras atuais, seja promovendo oficinas literárias
e intercâmbio com academias e escritores do interior. A lamentar, no caso da
ACL, as tantas dificuldades que ela tem encontrado para receber o apoio
financeiro a que, por lei, tem direito. Bem mais ela faria se melhor fosse
entendido o seu papel cultural.
(*) Ocupante da Cadeira 23 da Academia Catarinense de Letras.
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BALNEÁRIO
RINCÃO E SEU BERÇO DE OURO, O
MAR... (*)
É neste Berço de Ouro,
Balneário Rincão que tudo acontece com ternura. A vovó de mão enlaçada com o
amado caminha lentamente, buscando as ondas e o encontro com o mar. Debruço-me
sobre o muro e sinto um perfume de “mãe” e eles desenlaçam suas mãos, ao
perceberem meu olhar querendo trazê-los para perto de mim. Abaixo-me
disfarçadamente e colho algumas rosas imaginárias que há no jardim. Como se
eles tivessem nascido outra vez, seus passos lentamente se afastam, a
vovó com seu vestido de chita, despede-se com um sorriso feliz. O momento
é suavizado, e afastam-se em direção as ondas...O mar mora próximo ao meu lar,
as pessoas me enviam carinhos com seus olhares e as ondas se abraçam, enquanto
durmo. Os atletas (Jogadores do Criciúma) treinam defendendo o nosso amado
Tigrão. As moças desfilam com beleza, nas mãos os celulares. De repente uma
cavalgada à beira-mar e mais de 200 cavaleiros e amazonas, nobres paladinos, e
penso: “São de onde e para onde vão?” Incrível é que um deles grita alto:
“Escritora, que livro está lendo? Não sei como percebeu, e lhe respondo: O
livro do escritor Pinheiro Neto “Poemas Reunidos,” e solto no ar alguns versos
– As águas se abrem, a lua se enfeita, as estrelas descem – se achegam- é noite
de pesca, pesca de dor, de frio, de sofrimento. Pesca da dor, pesca do amor”.
Lá longe, os pescadores com suas redes de pesca, querendo ser presenteados
pelos deuses do mar. De adultos se transformam em crianças, quando um peixe desfila
do seu habitat até suas mãos. Os pequenos correm, aproximam-se do mar, e os
pais andam silenciosamente querendo alcançar os seus bebês.Quando estou só
reconheço e me esqueço. É a liberdade que me abraça, mas sem sorrir, talvez
porque me encontra assim: livre e esquecendo tudo o que existe, importa os
livros envaidecidos na biblioteca fantástica olhando para o mar? Não sou triste
e nem feliz (neste momento), sou Poeta? Alguém escreveu assim um dia, deveria
estar vivendo no segundo andar, de onde se abraça as ondas do mar? Creio que a
vida será sempre entendida pelos meninos e meninas que vivem próximo ao mar,
aqui a felicidade não toma conta de ninguém e nada é entendido por completo. Na
praia, algumas árvores, aves e flores se beijam de verdade. Toda a realidade
olha para mim como uma máquina de costura com a imagem dela no meio, minha mãe
que já partiu. Sei que sua arte alegrava a sua vida, os bordados e os
vestidos belíssimos nasciam de sua inspiração e ágeis mãos delicadas, deixavam
os príncipes e princesas se sentirem felizes nas festas e bailes do Clube
Ipiranga. Anoitece, os visitantes da praia estão saído do Berço de Ouro.
Anoiteceu e minha poesia fugiu de mim, talvez foi até as águas cristalinas,
inclinou-se tão natural sobre as ondas em desfile e adormeceu. A alma poeta tem
uma necessidade vital de articular a vida, ressuscitá-la, sensibilizar e
transformar. Mesmo que cante tantos desencantos, nunca deixará de acreditar na
humanidade e de reformar o que está imperfeito. Se alguém confundir a palavra
de um Poeta, saiba que seu impulso é o mais verdadeiro e de fé, sonhador
sim ...
(*) Crônica de Maria de
Fátima Pavei, escritora, autora de “Além dos trilhos do trem – Içara, 50 anos
de emancipação política 1961-2011.
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SILÊNCIO IV (*)
O silêncio se fez!
E no peito uma pedra
barulhenta pertétua...
O amor intenso esquecido
e a jura secreta
revelada...
Silêncio!
Virou pedra dolorida...
(*) Dú Karmona, poeta paulista. Este poema foi publicado na página
65, no volume 5 da Poemas à Flor da Pele, 2012, pela Somar.
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AS LUTAS (*)
São
os golpes que mantém vivo
O
corpo, aquele que ainda está em pé
São
olhares por todos os lados
Alguns
reprovadores, outros admirados
Eu
vejo as faces horrorizadas
Com
certas carnificinas
O
mais forte sempre tenta me derrubar!
(*)
Blimer – entre massacres, 2010. Nas sinaleiras de Floripa entregando seus
poemas fotocopiados.
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DOIS
POEMAS DE TÁBATA BELBUTE(*)
1-
Quando
te vi
Quando te vi
pela primeira vez
com tua luz me ceguei.
Com teu brilho
do céu ao chão
achou meu coração.
2-
Sentimentos
O amor mexe com a gente
por fora e por dentro.
E isso para mim
é o maior sentimento.
(*) De Porto Alegre, tem 12 anos,
artesã, filha do também escritor Silvio Belbute. Publicados na coletânea
“Poemas à Flor da Pele 5, volume 2, 2012.
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REGISTRO
1-
A
Academia de Letras de Biguaçu convida para a Sessão Solene de abertura dos
trabalhos acadêmicos de 2013 e lançamento dos seguintes livros: “Auto da
Imigração Alemã”, de Adauto Beckäuser; “Ganchos – pesca, maricultura e
turisno”, de Miguel Simão; “No apagar das luzes”, de Dalvina de Jesus Siqueira;
“7 contos da resistência”, de Willian Wollinger Brenuvida; e “A literatura dos
catarinenses – espaços e caminhos de uma identidade”, de Celestino Sachet. Contatos
através do emeio: academia@academiadeletrasdebiguacu.com.br
2- Sinfonia poética e prosa - volume 8 - publicado
em dezembro de 2012 pela Academia São José de Letras, entidade fundada em 24 de
abril de 1996 que tem como objetivo maior cultivar e divulgar a língua
vernácula e os valores da cultura, especialmente através do fazer literário e
como presidente o escritor Artêmio Zanon.
A produção literária que integra a
coletânea representa apenas, segundo seu presidente, pequena parte do universo
literário dado à lume nos anos de 2011 e 2012.
“Esta é, então, a maneira eficaz como
a Academia São José de Letras contribui para cultivo e divulgação da Última flor do Lácio, inculta e bela, no
cantar de Olavo Bilac...”
3- Desterríada é o título do primeiro
volume da coletânea editado no final do ano de 2012 pela Academia Desterrense
de Letras, divulgando trinta panegíricos apresentados em sessões solenes
específicas, ao longo dos anos de existência daquela entidade.
Apresentado por sua presidente, Hiamar
Polli e seu Diretor Geral, Artêmio Zanon, membro daquela entidade e organizador
da obra, o volume nos brinda com trinta textos escritos “de maneira pessoal,
havendo neles dados biobibliográficos”
onde cada orador segue seu próprio estilo sem uma orientação específica.
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CONFRARIA DO POEMA-pn
I
A
pele das mãos
enrugadas.
Nevos
melanocíticos
cortam
e cantam:
passado
sem paixões.
II
Reúnem-se
espectros
no
pátio da vida.
Planejam
o seqüestro
do
tempo que resta.
(Nano
poemas , Pinheiro Neto/2011)
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