segunda-feira, 1 de abril de 2013

Edição 45



PAPO NA CONFRARIA: FLÁVIO JOSÉ CARDOZO(*)











(O escritor, após palestra em Criciúma, em companhia da Bibliotecária Michelle Pinheiro)
       
1- O que te motivou a escrever?
    
 Acho isso meio misterioso. Claro que nada teria acontecido se eu não tivesse adquirido bem cedo o gosto pela leitura. Na origem de tudo, penso que está a curiosidade por aquele mundo de fantasia oferecido nos livros e, em certo momento, o impulso de também querer fazer. Foi algo espontâneo e inexplicável que surgiu não sei de onde e para ficar. Aí veio o aprendizado (se é que tenho aprendido) - um processo lento, sem fim.

2 - Cite os TRÊS livros (e respectivos autores) mais significativos em tua vida?

Por justiça, deveria citar os livrinhos fundamentais da escola primária que me revelaram o poder e a beleza da palavra escrita. Quanta leitura importante foi acontecendo a partir deles, quantos livros e autores podiam ser citados! Mas a pergunta pede três, só três livros que me marcaram de um modo especial no correr da vida. Então são eles, em três escalas: na literatura universal, o Dom Quixote (Cervantes); na literatura brasileira, Grande sertão: veredas (Guimarães Rosa) e, na literatura catarinense, Homens e algas (Othon d´Eça).

     
3 - Indique um livro (Literatura Brasileira) para leitura de:

a)      Alunos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries)
b)      Alunos do Ensino Médio
c)      Alunos do Ensino Superior

Aproveito a oportunidade para ressaltar a necessidade de se divulgar nas nossas escolas a literatura que se faz em Santa Catarina. Minha escolha vai ser restrita a ela.
Assim, para os alunos do Ensino Fundamental, indico um dos livros de Maria de Lourdes Krieger – digamos Vovó quer namorar.
Para os alunos do Ensino Médio, o romance São Miguel, de Guido Wilmar Sassi.
Para os do Ensino Superior, Ecos do porão, de Silveira de Souza.



4- Como se dá o processo da escrita em tua prática cotidiana?

     Conheço gente que traça um roteiro de trabalho e não se afasta dele, aconteça o que acontecer. Me falta disciplina, eu gostaria de ser mais trabalhador. Meu processo é vagaroso e sofrido. Adquiri, por exemplo, o péssimo costume de escrever e já ir querendo que cada página fique acabada. Creio que se eu fosse um profissional, com metas e compromissos a cumprir, seria bem mais ágil. Os quase dez anos de crônica diária me fizeram trabalhar sob pressão – e funcionou. Bem que podia ser assim nos outros gêneros...

5- Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.

     O grande apoio à literatura está certamente no apoio que o poder público, as instituições, as empresas etc. podem dar ao fomento da leitura nas escolas. A criação de bibliotecas escolares e públicas, a implantação de programas de difusão do livro, a capacitação de professores, o acesso de escritores aos estabelecimentos de ensino, a promoção de eventos escolares centrados no livro – tudo isso, que não é mais caro  do que tantas inutilidades patrocinadas por aí, conquistará crianças e jovens para a palavra escrita, vale dizer para o exercício da imaginação, para a agilização da mente, para o desafio a pensamentos próprios, para a revelação e a observação crítica do mundo e de seus valores. Todas as outras formas de apoio oficial e privado são importantíssimas, mas criar lá na base, de verdade, um lugar para a leitura na vida dos estudantes é o que mais pode interessar à literatura e aos seus autores.

6- Fale sobre o papel das Academias  de Letras em relação à Língua e à Literatura?

     Está nos objetivos das academias de letras divulgar a literatura e zelar pela língua nacional. Nesse sentido, elas podem atuar como efetivos instrumentos de informação e de formação. A Academia Catarinense de Letras tem sido, nos últimos anos, bastante ativa nesse sentido, seja reeditando obras importantes que estavam esgotadas, seja facilitando a edição de obras atuais, seja promovendo oficinas literárias e intercâmbio com academias e escritores do interior. A lamentar, no caso da ACL, as tantas dificuldades que ela tem encontrado para receber o apoio financeiro a que, por lei, tem direito. Bem mais ela faria se melhor fosse entendido o seu papel cultural.

(*) Ocupante da Cadeira 23 da Academia Catarinense de Letras.

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BALNEÁRIO RINCÃO E SEU BERÇO DE OURO, O MAR... (*)                           


É neste Berço de Ouro, Balneário Rincão que tudo acontece com ternura. A vovó de mão enlaçada com o amado caminha lentamente, buscando as ondas e o encontro com o mar. Debruço-me sobre o muro e sinto um perfume de “mãe” e eles desenlaçam suas mãos, ao perceberem meu olhar querendo trazê-los para perto de mim. Abaixo-me disfarçadamente e colho algumas rosas imaginárias que há no jardim. Como se eles tivessem nascido outra vez, seus passos lentamente se afastam, a vovó com seu vestido de chita, despede-se com um sorriso feliz. O momento é suavizado, e afastam-se em direção as ondas...O mar mora próximo ao meu lar, as pessoas me enviam carinhos com seus olhares e as ondas se abraçam, enquanto durmo. Os atletas (Jogadores do Criciúma) treinam defendendo o nosso amado Tigrão. As moças desfilam com beleza, nas mãos os celulares. De repente uma cavalgada à beira-mar e mais de 200 cavaleiros e amazonas, nobres paladinos, e penso: “São de onde e para onde vão?” Incrível é que um deles grita alto: “Escritora, que livro está lendo? Não sei como percebeu, e lhe respondo: O livro do escritor Pinheiro Neto “Poemas Reunidos,” e solto no ar alguns versos – As águas se abrem, a lua se enfeita, as estrelas descem – se achegam- é noite de pesca, pesca de dor, de frio, de sofrimento. Pesca da dor, pesca do amor”. Lá longe, os pescadores com suas redes de pesca, querendo ser presenteados pelos deuses do mar. De adultos se transformam em crianças, quando um peixe desfila do seu habitat até suas mãos. Os pequenos correm, aproximam-se do mar, e os pais andam silenciosamente querendo alcançar os seus bebês.Quando estou só reconheço e me esqueço. É a liberdade que me abraça, mas sem sorrir, talvez porque me encontra assim: livre e esquecendo tudo o que existe, importa os livros envaidecidos na biblioteca fantástica olhando para o mar? Não sou triste e nem feliz (neste momento), sou Poeta? Alguém escreveu assim um dia, deveria estar vivendo no segundo andar, de onde se abraça as ondas do mar? Creio que a vida será sempre entendida pelos meninos e meninas que vivem próximo ao mar, aqui a felicidade não toma conta de ninguém e nada é entendido por completo. Na praia, algumas árvores, aves e flores se beijam de verdade. Toda a realidade olha para mim como uma máquina de costura com a imagem dela no meio, minha mãe que já partiu. Sei que sua arte alegrava a sua vida, os bordados e os vestidos belíssimos nasciam de sua inspiração e ágeis mãos delicadas, deixavam os príncipes e princesas se sentirem felizes nas festas e bailes do Clube Ipiranga. Anoitece, os visitantes da praia estão saído do Berço de Ouro. Anoiteceu e minha poesia fugiu de mim, talvez foi até as águas cristalinas, inclinou-se tão natural sobre as ondas em desfile e adormeceu. A alma poeta tem uma necessidade vital de articular a vida, ressuscitá-la, sensibilizar e transformar. Mesmo que cante tantos desencantos, nunca deixará de acreditar na humanidade e de reformar o que está imperfeito. Se alguém confundir a palavra de um Poeta, saiba que seu impulso é o mais verdadeiro e de fé, sonhador sim ...

(*) Crônica de Maria de Fátima Pavei, escritora, autora de “Além dos trilhos do trem – Içara, 50 anos de emancipação política 1961-2011.

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SILÊNCIO IV (*)

O silêncio se fez!
E no peito uma pedra barulhenta pertétua...
O amor intenso esquecido
e a jura secreta revelada...
Silêncio!
Virou pedra dolorida...

(*) Dú Karmona, poeta paulista. Este poema foi publicado na página 65, no volume 5 da Poemas à Flor da Pele, 2012, pela Somar.

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AS LUTAS (*)

São os golpes que mantém vivo
O corpo, aquele que ainda está em pé
São olhares por todos os lados
Alguns reprovadores, outros admirados
Eu vejo as faces horrorizadas
Com certas carnificinas
O mais forte sempre tenta me derrubar!

(*) Blimer – entre massacres, 2010. Nas sinaleiras de Floripa entregando seus poemas fotocopiados.


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DOIS POEMAS DE TÁBATA BELBUTE(*)

1-    Quando te vi

Quando te vi
pela primeira vez
com tua luz me ceguei.
Com teu brilho
do céu ao chão
achou meu coração.

2-    Sentimentos

O amor mexe com a gente
por fora e por dentro.
E isso para mim
é o maior sentimento.

(*) De Porto Alegre, tem 12 anos, artesã, filha do também escritor Silvio Belbute. Publicados na coletânea “Poemas à Flor da Pele 5, volume 2, 2012.

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REGISTRO

1-    A Academia de Letras de Biguaçu convida para a Sessão Solene de abertura dos trabalhos acadêmicos de 2013 e lançamento dos seguintes livros: “Auto da Imigração Alemã”, de Adauto Beckäuser; “Ganchos – pesca, maricultura e turisno”, de Miguel Simão; “No apagar das luzes”, de Dalvina de Jesus Siqueira; “7 contos da resistência”, de Willian Wollinger Brenuvida; e “A literatura dos catarinenses – espaços e caminhos de uma identidade”, de Celestino Sachet. Contatos através do emeio: academia@academiadeletrasdebiguacu.com.br

2-    Sinfonia poética e prosa - volume 8 - publicado em dezembro de 2012 pela Academia São José de Letras, entidade fundada em 24 de abril de 1996 que tem como objetivo maior cultivar e divulgar a língua vernácula e os valores da cultura, especialmente através do fazer literário e como presidente o escritor Artêmio Zanon.
A produção literária que integra a coletânea representa apenas, segundo seu presidente, pequena parte do universo literário dado à lume nos anos de 2011 e 2012.
“Esta é, então, a maneira eficaz como a Academia São José de Letras contribui para cultivo e divulgação da Última flor do Lácio, inculta e bela, no cantar de Olavo Bilac...”


3-    Desterríada é o título do primeiro volume da coletânea editado no final do ano de 2012 pela Academia Desterrense de Letras, divulgando trinta panegíricos apresentados em sessões solenes específicas, ao longo dos anos de existência daquela entidade.
Apresentado por sua presidente, Hiamar Polli e seu Diretor Geral, Artêmio Zanon, membro daquela entidade e organizador da obra, o volume nos brinda com trinta textos escritos “de maneira pessoal, havendo neles dados biobibliográficos”  onde cada orador segue seu próprio estilo sem uma orientação específica.


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CONFRARIA DO POEMA-pn
I
A pele das mãos
enrugadas.
Nevos melanocíticos
cortam e cantam:
passado sem paixões.

II

Reúnem-se espectros
no pátio da vida.
Planejam o seqüestro
do tempo que resta.

(Nano poemas , Pinheiro Neto/2011)








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