quinta-feira, 30 de maio de 2013

Edição 47

  


PAPO NA CONFRARIA: Celestino Sachet(*)


1 – O que te motivou a escrever?
Não sei! A vontade de escrever veio vindo, veio vindo, e se instalou em mim sem dar a mínima explicação desde os primeiros anos da escolaridade formal.

2- Cite os TRÊS livros (e respectivos autores) mais significativos em tua vida?
Dos três livros mais significativos em minha formação cultural, o primeiro, não li: prestei atenção, com muito interesse, na leitura que a professora Lucinda Machado Vieira, lá na terceira série do ensino primário, 1938, lia uma vez por semana para toda a turma. E como ficávamos grudados nas palavras do texto. Era uma adaptação do Pinóquio, a história daquele boneco de madeira que, quando mentia, crescia-lhe o nariz que já estava desse tamanho. O livro foi escrito pelo italiano Carlo Lorenzini Collodi, 1826-1890. A história, em mãos da professora, levava o título Zé Pinho, publicado na revista O Eco, dos padres jesuítas de Porto Alegre. O segundo, que descobri no Colégio Catarinense, entre 1945-1948, quando estava frequentando o curso ginasial, foi Vidas Secas, de Graciliano Ramos, 1892-1931. O terceiro, já na Faculdade Catarinense de Filosofia, Ciências e Letras, 1955-1958, levava o título Grande sertão: veredas, de Guimarães Roas, 1908-1967.

3- Indique um livro (Literatura Brasileira) para leitura de: a) Alunos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries), b) Alunos do Ensino Médio, c) Alunos do Ensino Superior:

Para leitura dos alunos de ensino fundamental – se é que nós madurões ainda conseguimos convencer crianças em processo de alfabetização e de  primeiras letras – eu indicaria O menino maluquinho, do Ziraldo.
Para os níveis posteriores, vão os mesmos livros que me compraram a simpatia no Colégio Catarinense e na Faculdade de Filosofia. Para repetir: Vidas secas e Grande sertão: veredas.


4- Como se dá o processo da escrita em tua prática cotidiana?

Como se dá o processo da escrita em minha vida cotidiana, é outro mistério. De repente me dá ganas de escrever, sempre à mão, porque, para mim, a palavra é como se fosse barro ao qual devo dar forma de objeto estético. Escrevo e risco, risco, até que a palavra, me olhando, diga:
            - Pára de te intrometer na minha vida. Já está bem assim! E não tenta mais porque estou cansada com tantas mudanças dentro do meu corpo e do meu espírito.

5- Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.

Sobre o apoio dispensado pelo setor público e pelo setor privado à literatura não me parece que ele seja tão necessário. Acho que os dois não devem meter-se na criatividade do escritor. O melhor que eles fazem é ficarem fora do processo. Ou, então, que se metam a estimular leitores ... e compradores de obra publicada!

6- Fale sobre o papel das Academias  de Letras em relação à Língua e à Literatura?

             Das Academias de Letras, escritores e leitores precisam receber, de maneira prática, pistas sobre os melhores caminhos para escrever bem e de ler com mais proveito pessoal até o ponto em que o leitor consiga atravessar o livro com criatividade e com prazer.
           
(*) Ocupante da Cadeira 15 da Academia Catarinense de Letras.

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VIAGENS 

Já nem consigo lembrar
quantas vezes te busquei
com nomes e fomes
criados ao acaso,
de meus cansaços ocasionais
restam marcas na parede
escondidas discretamente
por cartazes de eventos e ideologias

e mal consigo reter-te
para o sono ligeiro
da lassidão do corpo
e a exaustão do braço

(Alfredo Roberto Bessow, Edições Sanfona, Floripa, 1985)

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POR UM NOVO MUNDO (*)

Quando o jornalista Ademir Arnon, presidente da Associação Catarinense de Imprensa, convidou-me para apresentar este livro  em nome daquela entidade, confesso que fiquei  um tanto apreensivo. Afinal, é uma responsabilidade muito grande apresentar um livro destinado a crianças. Acredito que o cuidado deve ser bem maior do que o necessário para a apresentação de um livro que tenha como alvo o público adulto. A criança é um ouvinte/leitor extremamente exigente, nada lhe passa despercebido. Seu senso de observação é muito aguçado e perspicaz. Nessa idade – entre dois e seis anos – a criança está moldando seu caráter, sua personalidade. Alie-se a isso o fato de que todo o livro infantil precisa considerar a criança – alfabetizada ou não – como um ser inteligente.
Pedi um tempo para examinar o material e fui para casa. Estava deveras curioso. Li uma, duas, três vezes. Comecei a gostar da história, da linguagem e da utilização da língua padrão culta, da mensagem, da objetividade do texto. Senti que precisava de elementos mais concretos, mais palpáveis  e que me dessem segurança. Foi aí que  resolvi fazer uma pequena experiência para verificar qual poderia ser a reação do público alvo, isto é,  crianças e professores. Entreguei o livro a uma professora de Séries Iniciais e pedi que o lesse para algumas crianças não alfabetizadas e fiquei observando. Como ela não havia feito nenhuma análise preliminar do livro, agrupou as crianças e iniciou a leitura. A cada frase lida a professora mostrava os desenhos correspondentes e as crianças formulavam muitas perguntas: sobre as características físicas ( as anteninhas, as orelhinhas, os olhinhos) e psicológicas  (os bons, os maus, os alegres, os tristes) das personagens; sobre as diversas cores utilizadas; sobre  palavras e expressões não entendidas; sobre as semelhanças e diferenças dos personagens.  Ao final a professora trabalhou diversas questões a partir das perguntas das crianças e das mensagens que a história tenta passar, tais como: as diferenças, exclusão e inclusão, preconceitos, cores, espaço e tempo, planetas diferentes do nosso e seus possíveis habitantes, fábulas, folclore e outros. As crianças, sempre envolvidas, sorriam, brincavam, interagiam durante todo o processo.
Teste feito, livro aceito, ou melhor, apto para ser recomendado. Agradeci a professora e as crianças e considerei minha tarefa concluída.  Afinal, minha contribuição ultrapassou o simples compromisso de uma apresentação formal  e ainda permitirá aos autores – Augusto de Abreu, do texto e Rael Dionísio, das imagens – algo que não é muito comum no mundo da editoração, isto é, ver seu livro testado antes de ser publicado. Está certo que não se tratou aqui de uma experiência científica mas empática, de aceitação e, por isto mesmo, não menos válida.
                             

(*) Apresentação que fiz para o livro Novo Mundo, de Augusto de Abreu, membro da Academia Desterrense de Letras, editado pela Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses. O lançamento do livro está agendado para o dia 7 de agosto, às 19:30 na Livraria Catarinense do Beira Mar Shoping.

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LI E RECOMENDO (1)

Realidade: história da revista que virou lenda, escrito por  Mylton Severiano, com apresentação de Paulo Henrique Amorim foi editado pela Insular este ano. Apresenta a trajetória de um grupo de jornalistas “sem diploma” que, de 1964 a 1969 colocaram nas bancas 33 números da revista (Realidade) que revolucionou a maneira de “fazer revista” no Brasil. Seu autor utiliza uma linguagem simples e ao mesmo tempo elaborada e contagiante que faz com que o leitor não queira desgrudar do livro um só minuto. Quiçá a fórmula trazida da época da revista.

Segundo Paco Maluco (Paulo Henrique Amorim), um dos metais da grande banda Loucos de 64, “Realidade captou aquela ânsia de entender o mundo desorganizado dos anos 60, os costumes, os novos personagens, a miséria que São Paulo desconhecia: uma realidade que soltava um cheiro parecido com o dos mictórios dos bares que nós frequentávamos. Tudo misturado à intervenção militar.”

Mylton Severiano, paulista de Marília, onde concluiu o ensino médio e um curso de música de seis anos, hoje mora em Florianópolis. Passou por inúmeras redações de jornais, revistas e telejornais, antes de se tornar free-lancer e dedicar-se a criar peças para campanhas eleitorais e a escrever livros. Publicou, entre outros, Se liga! O livro das drogas (Record), a biografia Paixão de João Antônio (Casa Amarela) e Nascidos para perder – história do Estadão (Insular).

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REGISTRO

LANÇAMENTO

O romance de Miro Morais, O reino dos esquecidos, editado pela Insular, será lançado no dia 7 de junho próximo, a partir das 19:30 na Lindacap, em Florianópolis.

VAIA

Recebi o número 33 de do jornal Vaia, de Porto Alegre que tem como Editor Fernando Ramos e Diagramação de Marcos Marques. Destaque para a programação da 6ª. Festa Literária de Porto Alegre – FestiPoa, para a entrevista com Cristóvão Tezza e para o Concurso Literário Contista Estreante. www.jornalvaia.com.br – jornalvaia@gmail.com

O NHEÇUANO

O número 14 do jornal de Roque Gonzales, referente a abril e maio deste ano e editado por Marcos Marques chega às minhas mãos juntamente com Vaia. Um jornal cultural que dá conta das questões do povo Guarani, de livros, de literatura, de poemas e de notícias. Um jornal que sempre mantém aberto um canal para a divulgação de escritores catarinenses, principalmente através dos escritores Inês e Nelson Hoffmann (o primeiro, um amigo que guardo do lado esquerdo do peito).  (...) Nheçu, líder indígena Guarani, defensor de seu povo, sua cultura e sua terra, pioneiro na resistência aos conquistadores, no século XVII, na atual região das Missões, RS(...)

O TRINTA RÉIS

Recebi e agradeço o Boletim Informativo nº. 68, referente aos meses de abril e maio, da Academia São José de Letras, entidade presidida pelo escritor Artêmio Zanon.

POEMAS À FLOR DA PELE

A dinâmica escritora Soninha Porto (de Porto Alegre), presidente da Associação Cultural Poemas à Flor da Pele prepara uma festa ímpar para a comemoração dos 7 anos de existência do movimento. A programação contará com edição de nova coletânea reunindo escritores do Brasil e do exterior, passando pela estruturação da entidade, por lançamentos na Feira do Livro de Porto Alegre, em São Paulo e em outras cidades e culminando com um evento lítero-artístico-cultural na capital gaúcha.


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CONFRARIA DO POEMA-pn

A palavra chega rápido.
Não a domino.

Fogem as imagens
              as figuras
              as idéias.

Animal xucro
fêmea insaciável.

Ah... palavra!
(prostituída)?
Sem substituta –
A cada dia mais potra!

(Palavra, Pinheiro Neto, A rosa do verso,1988)