terça-feira, 2 de julho de 2013

Edição nº. 48



PAPO NA CONFRARIA: Júlio de Queiroz


1- O que te motivou a escrever?

A leitura constante, documentalmente comprovadamente  me ter sido     ensinada por meu pai quando eu tinha três anos de idade.

2- Cite os TRÊS livros (e respectivos autores) mais significativos em tua vida?

Histórias de nossa terra/ Júlia Lopes de Almeida;Kim/Rudyard Kipling/ No Turquestão bravia/ Karl May.

3- Indique um livro (Literatura Brasileira) para leitura de: a) Alunos do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries), b) Alunos do Ensino Médio, c) Alunos do Ensino Superior.

a) Aventuras de Pedrinho/ Monteiro Lobato
b) O  escâdalo do petróleo/ Monteiro Lobato
c) Vidas ilustres/Hendrik van Loon.

4- Como se dá o processo da escrita em tua prática cotidiana?

Metodicamente, às tardes.  Os cortes e remendos acontecem a qualquer             
hora.

5- Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.

Em verdade, é irrisório. O que importa a ambos é o fogo de artifício                 sem substância. Tudo começa quando alunos do curso primário (apelidado de fundamental) não podem ser reprovados. O médio é quase que só o aprendizado de truques e jeitinhos para os exames vestibulares. O do 3º grau não conseguem sequer exigir um emprego gramatical decente. Além disto, os poderosíssimos meios de comunicação atuais não dependem da palavra escrita e sim da verbalização oral pobre e imediata.

6- Fale sobre o papel das Academias  de Letras em relação à Língua e à Literatura?


As academias de letras deveriam ter como primordial cuidar da língua nacional. Escondem–se em torres de marfim. Não vejo nenhuma delas com coragem para denunciar a traição coletiva das “mídia” falada e escrita, que consideram indispensáveis salpicar palavras do inglês americano a torto e direito. Há milhares de exemplos de deformação da expressão brasileira, além de assassinarem o vocabulário nacional.  Nossos meios de comunicação passaram a desconhecer as palavras “para”, “informação”, “qualificar”, “ramo” e milhares de outras ou mal-traduzidas ou implantadas a força, como se a o português brasileiro seja incapaz de criar neologismos. A última estupidez generalizada é o emprego do verbo “perseguir” como se significasse “buscar” ou o erudito “almejar”. “Perseguir um ideal, um alvo” Só não é cômico, porque é trágico.

(*) Ocupante da Cadeira 10 da Academia Catarinense de Letras.

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O GATO É SELECIONADO PARA FESTIVAL

O curta-metragem O Gato, realizado na 1ª Oficina de Introdução à Prática Audiovisual: do desenvolvimento à produção, promovida em parceria pela Novelo Filmes e Fundo Municipal de Cinema (Funcine), foi selecionado para a mostra competitiva do Festival CinemadaMare, que ocorre de 25 de junho a 7 de setembro por 10 cidades italianas. 
Com direção de Juliana Bassetti e produção de Neca Gamarra, O Gato é uma adaptação do conto homônimo de Christiano Scheiner, autor também do roteiro. Com duração de 11 minutos, a narrativa mostra a mudança na rotina de um executivo e sua secretária depois que ele encontra um gato morto em cima da mesa do escritório. O animal passa a estimular comportamentos inusitados em ambos, trazendo à tona seus desejos mais obscuros.
O Gato venceu um processo seletivo no formato pitching na útlima etapa da oficina, que teve o amparo da produtora Onda Sonora e da Cinesuport. A realização do curta contou com o apoio da Loja Varal, Tucano House Backpacker, Loja do Guarda Pó e Banca Catedral. A oficina foi realizada na sala de cinema da Fundação Cultural Badesc, onde também ocorreu a pré-estreia.
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SEDA

Sinto-me, muitas vezes,
como se fosse
uma peça de seda
tão suave... e macia
enrolada no teu corpo
deslizando feito cobra
mas é teu o meu veneno.

Seda fina vai rasgando
nos teus bruscos movimentos
és sedento
tua calma é aparente
tens fúria apaixonada
desfiando a seda
em franjas.
Agora, restam-me os remendos.

(Telma Lúcia Faria, Anjo Solidão, Ed. Secco, Floripa, 2007)

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BESTIÁRIO MEYER FILHO

Uma pequena mostra da obra do nosso inesquecível Ernesto Meyer Filho pode ser revista e lembrada no prédio situado na Praça XV, esquina com a Rua Tiradentes, numa promoção da Fundação Franklin Cascaes.

Natural de Itajaí, onde nasceu em 1919, Meyer Filho – autodidata  -  ainda  adolescente viu despontar sua arte primitiva e surrealista. Místico, se auto-intitulava “Cidadão Honorário de Marte”, que afirmava haver visitado 20 vezes. Reforçando esse misticismo, ele morreu em 1991 – ano que traz os mesmos números do ano de seu  nascimento.

A curadora  do Memorial Meyer Filho, Kamila Nunes , organizou uma galeria interessante exibindo o “Bestiário” onde estão espalhadas telas com seres humanos acoplados ao fantástico imaginário do  artista na forma de animais, especialmente galináceos.

Na exposição existe uma tela muito curiosa onde o autor, em letra manuscrita, desabafa sua situação de precursor da arte surrealista nos três estados sulinos, sem contar com apoio algum ou qualquer reconhecimento.
Meyer Filho é figura de suma importância na História da cultura catarinense tendo expandido sua obra para outros pontos do País e até ao exterior.

(Ivonita Di Concílio/2013)


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A PRENDA

Sacode o manto de ervas
a fada do outono.
Encrespa o vento, as madeixas
da sua cabeleira.
A harpa em sintonia
desafia novos prelúdios...

Estende o seu bastão
a fada enternecida.
Estampa de flor e folha
no algodão prá tecido.
A natureza é uma prenda
trocando de vestido.

(Gladis Deble, Poemas à Flor da Pele, vol. 4, p.148, 2011) 


LI E RECOMENDO (2)

Triângulo rosa: um homossexual no campo de concentração nazista, escrito por Jean-Luc Schwab, traduzido por Angela Cristina Salgueiro Marques e editado pela Mescla Editorial em 2011 é antes de qualquer coisa o relato do depoimento de Rudolf Brazda, complementado com profunda pesquisa histórica realizada pelo autor.
“Da ascensão do nazismo na Alemanha à invasão da Tchecoslováquia, da despreocupação no início dos anos 1930 ao horror do campo de concentração de Buchenwald, esta obra revela em detalhe, pela primeira vez, as investigações policiais que visaram inúmeros homossexuais no Estado nazista. Também aborda, com tato e sem tabu, a questão da sexualidade num campo de concentração.”
O livro conta a história de Rudolf Brazda, nascido na Alemanha em 1913 de pais tchecos,  condenado duas vezes pelo regime nazista por ser homossexual e depois deportado para Buchenwald. Ele ficou preso naquele campo de concentração durante 32 meses, até sua libertação em abril de 1945, e fixou residência na França.

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REGISTRO

ROMANCE

A escritora Zenilda Nunes Lins lançou seu Romance “Reino das Estrelas” no dia 27 último, no auditório da Academia Catarinense de Letras, à Avenida Hercílio Luz, próximo ao Clube Doze de Agosto.
Na ocasião, a escritora e cantora Ivonita Di Concílio prestou uma homenagem musical à autora.

NOA NOA

A Cultura de Santa Catarina perdeu na madrugada do dia 23 de junho o poeta e editor,  Cléber Teixeira, aos 73 anos. A Noa Noa, sua editora mantinha como carro chefe uma  impressora no estilo da prensa de Gutemberg, a marca registrada desse “homem de cultura”. De tanto amar os livros Cléber só os concebia através do modelo artesanal de impressão, a tipografia.
Sua contribuição à Literatura ficará para sempre marcada na história do que se produziu e produzirá em Santa Catarina, embora suas cinzas fiquem depositadas no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, sua cidade natal.




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CONFRARIA DO POEMA-pn

A palavra paixão
não deixa escolha
corrói meu interior.
Conota-se amor
traveste-se amizade.

A palavra paixão
revolve o peito
adormecido sentimento
velhos desejos,
tufão (des)amenidades.

A paixão palavra
Revive o tempo.

(Paixão-Palavra, Pinheiro Neto, A rosa do verso,1988)






Um comentário:

  1. Bom começar essa quarta feira fria com um trabalho de grande qualidade. Parabéns, amigo poeta. É sempre uma delícia vir aqui.

    Beijo ternurento

    Clau Assi

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