segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Edição nº. 64







PAPO NA CONFRARIA: Luiz Carlos Amorim



1-O que te motiva a escrever?
O que me motiva a escrever é compartilhar a minha visão do mundo, me localizar no meu tempo e no meu espaço. É escrevendo que procuro a minha identidade, que exteriorizo a aventura de viver. Escrever é um ato de sobrevivência.

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2- Cite 3 livros e respectivos autores mais significativos em sua a vida.
Alguns dos livros mais significativos para mim: “Germinal”, de Zola, “A quinta essência de Quintana” e “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez. E não posso deixar de citar “Cruzeiros do Sul”, de Urda Alice Klueger, pois de alguma maneira me lembra o livro de García Márquez.

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3-  Indique um livro,  da literatura brasileira, para leitura de:
a)      Alunos do Ensino Fundamental – 5ª. a 8ª.: “Fernão Capelo Gaivota”, de Richard Bach
b)      Alunos do Ensino Médio: “Os Melhores Poemas de Mário Quintana”
c)       Alunos do ensino Superior: “Os melhores contos de Tchekov”

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4- Como se dá o processo criativo em tua prática cotidiana?
O processo de criação para mim é simples. Presto atenção em tudo, vou recolhendo pedaços do cotidiano e da relação com as pessoas e vou sempre anotando. Quando é possível, anoto no primeiro papel que estive à mão, pois se deixarmos para depois o assunto será abordado de maneira diferente, já não será a mesma coisa. E depois de escrito, reler, reler, reler.

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5- Fale sobre o apoio dispensado pelos setores público e privado à literatura.
Não vejo muito apoio à leitura, por parte dos setores públicos. Não temos bibliotecas em todas as escolas, principalmente as públicas, não temos bibliotecas em todos os municípios, tanto aqui de nosso Estado como em outros pontos do país, não temos um espaço especificamente dedicado à leitura e literatura em nossos currículos escolares. Vejo mais iniciativas privadas para o incentivo à leitura. Pessoas anônimas que montam bibliotecas em lugares diversos, que angariam livros na sua comunidade para colocar a disposição de quem não tem dinheiro para compra-los, pessoas que trocam lixo por livros, e assim por diante. Um exemplo está bem aqui em Florianópolis: o projeto Floripa Letrado, da Prefeitura da capital, colocou estantes nos terminais de ônibus, mas está colocando lá, há algum tempo, quase que exclusivamente livros didáticos, alguns já defasados e de segunda mão. Não há verba para comprar livros novos, livros literários.


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6- Fale sobre o papel das Academias de Letras em relação à língua e à literatura.
As academias literárias deveriam ter um papel muito mais dinâmico no sentido de preservar a nossa língua e valorizar a nossa literatura. Elas precisam ir até os leitores e trazê-los, também, para dentro de suas casas, e estamos encaminhando para isso, felizmente. Os escritores precisam estreitar a aproximação com o leitor e não só os acadêmicos precisam fazer isso, mas todo aquele que escreve.

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Luiz Carlos Amorim é natural de Corupá (SC), nascido em 16.02.1953 e formado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Joinville.  É fundador e  Presidente do Grupo Literário A ILHA em SC, com 34 anos de atividades e editor das Edições A ILHA, que publicam as revistas Suplemento Literário A ILHA e Mirandum (Confraria de Quintana), além de mais de 50 livros. 
Editor de conteúdo do portal PROSA, POESIA & CIA. – Http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br - e autor de 29 livros de crônicas, contos, poemas e infanto-juvenil, três deles publicados no exterior, em inglês, espanhol, francês e italiano.


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DA SÉRIE “POETAS MULHERES” - 6



POR RAZÃO NENHUMA
 
desejo um riso
profundo
que não corra
o raso risco
ou uma rente
rasura
e se curve 
sem motivo
desalinhando o siso
do sol da boca

[Valéria Tarelho, Face, 01/10/2014]












SILÊNCIO DE NÓS

Pousa teu olhar devagar
e prende a palavra
deixe que apenas o querer
eternize o instante
eu guardarei na lembrança
esse momento perfeito
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Desfez-se todo o sortilégio
tornaram-se comuns
apenas uma  leveza vulgar
e permaneceram amantes
em lugar de velhos conhecidos
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Um banquete a dois
de risos, venenos e entregas
você diluindo os segredos 
eu semeando as vertigens 
produzindo ressonâncias 
naquela noite
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Fala-me dos teus pecados
esses me interessam
consinta a plenitude do amargo
deixa-te devorar pela ânsia voraz
das impermanências
discurso eloquente
não convence

[CRIS MP BRANCO, POA, 2014]



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LÁGRIMAS AMARGAS


Meu coração pulsa forte
Ao som de tua voz
Todo meu corpo estremece
Ao vê-lo passar
Mãos suadas e frias
Lembro-me, não sou mais tua
Arde em meu peito a dor
Retenho a emoção
Finjo estar bem, sorrio
Um sorriso dolorido
Que sufoca impiedosamente
Minhas lágrimas amargas
Lágrimas de tua ausência.


[ Carina  Morais,  31/10/2012, republicado no Face pela autora em 15/09/2014]









FURACÃO

Soprou tão forte
sobre as frágeis nuvens
que as desfez

enredou casas,muros,
cruzes, faces, pontes,
arou tudo sobre a terra

e depois escondeu-se
cansado, coberto de lama
e só a brisa o entendeu!


[ Ana Luiza Conceição ,  Poemas à flor da pele 8, Somar, pg. 21, Porto Alegre, 2014]





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DESCOBERTA

Não desisto dos meus sonhos,
a cada passo vejo o caminho,
ele às vezes é claro,
às vezes escuro, mas não desanimo.

O olhar busca a alegria,
e a beleza das cores,
um passo a cada dia,
num caminho, às vezes tortuoso,
às vezes repleto de flores.

Cabelos ao vento,
pele arrepiada pela brisa,
sensações novas a cada momento,
provocam sorrisos ou lágrimas,
é a vida que improvisa,
provocando encantamento.

Troco de roupa no outono,
para ressurgir feliz e colorida,
na primavera, onde espiono
os movimentos da fantasia tingida,
pelos pincéis nas mãos do dono.

Sou a força do meu ser,
sou a minha criadora e dona,
sei o que quero e o que fazer.
Sou um ser que se emociona
e se impulsiona, sabendo se ter.

[Celma  Capeche [RJ],  Poemas à flor da pele 8, Somar,2014, pg.31]





[Arte de Michele Espíndola - Café Mineiro/2014)




O HOMEM


Massa desfigurada
número de série infinita
de banco de memória
que o sacrifica
e o anula
coisificando-o
dentro desta conjuntura
onde o número é símbolo
do ser esquecido


[ Margarida Finkel, No tear dos ventos, Massao Ohno-Roswitha Kempf/Editores, São Paulo, 1980]





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ENVELHECENDO

Os cabelos grisalhando,
o rosto emurchecendo:
é o tempo que está voando
ou nós estamos passando?

As coisas que mais amávamos
já não trazem prazer:
recordações nos perseguem
o medo nos assedia,
a esperança vai fugindo
e o desengano vem chegando...

Tudo parece dizendo adeus:
O sol já não aquece tanto
e as estrelas já não brilham como antes!

[Silvia Amélia, Poemas do meu caminho, Coleção ACL 2, p. 55, Floripa, 1993]





[Arte de Michele Espíndola - Café Mineiro/2014)




VIDA  I

E quantas águas brotaram,
                              Rolaram.
Quantos olhares cruzaram-se,
                               Desviaram-se.
Só esperanças, sonhos, desejos.
Quantas montanhas a cruzar;
Quantas barreiras a enfrentar;
Quantos caminhos a percorrer
ao chegar a resposta da verdadeira
existência do ser humano.


[ Jaqueline Boabaid, Um cheiro de vida verde, Edições Bernúncia, p.4, Floripa,1985]




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TARDES DE SÁBADO

Um burburinho de vozes,
onde nenhuma palavra se entende...
borboletas com pés nas nuvens
e folhas de joaninha pelo chão.
Minha lucidez?
é tudo que não quero de volta:
vou ser feliz um pouco mais.


[Basilina Pereira , Tempo contrário, Verbis editora, p. 82, Brasília, 2011]










AVE NOTURNA


Que me perdoem as madrugadas
mas serei sempre
apaixonada pela beleza
do entardecer.
Quando a noite é quase
uma certeza,
quando as pessoas
acendem as luzes dos olhos
e o real fica mesclado
de fantasia,
sou como ave noturna:
canto para as estrelas,
canto porque sou triste
meu canto está derramado
pelas distantes lagoas
dos teus olhos.

[ Telma Lúcia Faria, Anjo solidão, Editora Secco, p. 72, Florianópolis, 2007]



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ESPERANDO A MORTE CHEGAR (crônica)

Quando alguém pergunta para você: como vai? Não dá tempo para se esboçar uma resposta e o sujeito já está falando sobre outra coisa que sequer tem nexo com a indagação inicial. Qual é a idéia? Simples. Este protocolo está ficando caricato, como uma série de gestos, comportamentos, manias, cacoetes que herdamos sem atinar para o seu significado ou por sua abrangência caso tentássemos ir mais fundo nesta superficialidade em que tudo se está transformando, ou melhor, a que nós mesmos estamos reduzindo e claro, por supuesto como dizem ali em Buenos Aires, nos reduzindo juntos.
O Raul Seixas tem uma música que fez sucesso em 1973, chamada “Ouro de Tolo” que é muito elucidativa. Na canção o protagonista tem a consciência de se contentar com o que possui num mundo em que ele não entende. Quer dizer, ter-se a noção de que se está doente é o primeiro passo para a cura. Só esta consciência não basta, diria o Sartre, é preciso agir.
Dia destes caí na armadilha. Deixo o carro no posto para lavar e vou ao bar tomar um café (também estou ficando mentiroso, alô Tim Maia!) enquanto espero. Quando entro dou de cara com um conhecido e pergunto logo: como vai? Logo depois (antes mesmo de terminar a frase) me arrependo, penso, se ele me disser “como está indo” quem está “ferrado” sou eu. Com um cigarro em uma das mãos e o copo na outra, para minha surpresa, o sujeito dá uma boa tragada, deixa o copo de cerveja no balcão e me estende a mão afirmando ”esperando a morte chegar”.
Não resisto e tasco logo:
--- Tá brincando!
Ele me olha sério e contrapõe.
--- Por que, você não está esperando a morte?
--- Estás é louco, digo. --- Entre a morte e outra coisa, prefiro outra coisa.
--- Vai dizer que você acha que não vai morrer?
Antes de responder ainda tiro um sarro.
--- Esta outra coisa pode ser a Vera Fischer, a musa... Tudo menos essa aí que você se referiu...
Rimos.
--- Mas que ela vai chegar, vai, insiste.
--- Tudo bem, digo. --- Mas não precisa ser agora e enquanto ela não chega, podemos fazer alguma coisa ainda.
De repente tudo ficou silencioso. O cara comendo o pastel parou o ato, o outro segurando o copo no ar, o cidadão na minha frente dá outra tragada, o proprietário está impaciente atrás do caixa, todos esperando que alguma coisa fosse feita, afinal tinha-se a impressão de que a morte estava ali rondando esperando o primeiro abrir a boca para levá-lo.
--- Como se diz lá na minha terra, começo, referindo-me a morte. --- Posso até ir, mas vou esperneando.
Eles riram.
--- Absolutamente contra a vontade, concluo, emendando. --- A vida é esta, pode ser um inferno, como diria o poetinha, mas ninguém me provou que exista outra, portando temos que vivê-la da melhor forma possível, de preferência, fazendo o que se gosta...
Depois disso o ambiente se descontraiu. No entanto, observando mais atentamente aquele meu conhecido, um habitué do local, destes que chegam sempre no mesmo horário, pedem a mesma coisa e sentam-se à mesma mesa, invariavelmente conversam sobre as mesmos assuntos, enfim, repetem o que os garçons chamam “o de sempre”, percebi aquele olhar perdido em um ponto indefinido na parede, como se estivesse esperando algo que não soubesse precisar bem o quê... Expectativa quebrada quando estaciona um carro em frente da porta do bar, ele toma o resto da cerveja num gole, se despede e sai. Alguém brinca, “é a rádio patroa chegando”... Vejo a mulher do sujeito dentro do veículo, tamborilando os dedos sobre o volante, denotando impaciência, o que parecia normal para todo o mundo, menos pra mim.
É! Penso - para muita gente a morte deve ser mesmo um consolo - e digo para o garçom: suspende o café e me traga outra coisa!
(Olsen Jr., Diário da Provyncia, 28/09/2014)


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LI E RECOMENDO (8)





O DESPERTAR DOS MÁGICOS  Introdução ao realismo fantástico


Escrito por Louis Pauwels e Jacques Bergier, 6ª. edição, Difusão Européia do Livro, São Paulo, 1971, tradução de Gina de Freitas e capa de Marianne Peretti, 463 páginas continua como um dos meus livros de cabeceira, de consultas e de infindáveis retornos. Acredito que todos os escritores, prosadores e poetas, se ainda não o fizeram, deveriam lê-lo.

Será a sociedade secreta a futura forma de governo? Terão existido em tempos imemoriais civilizações técnicas? Haverá portas abertas para universos paralelos? Estaremos avançando para alguma forma de ultra-humano?

Aparentemente, estas são perguntas loucas. Mas, para Jacques Bergier e Louis Pauwels, que investigaram exaustivamente as linhas avançadas do conhecimento, é indispensável que estas questões sejam formuladas. Estas e muitas outras ainda mais estranhas. Nós interrogamos a realidade através dos nossos preconceitos, antigos ou modernos. Mas há outra forma de a interrogar e então ela se revela fantástica. Para nos dar um exemplo ao nosso alcance, os autores estudaram especialmente o nazismo. Apresentam-nos uma sociedade místico-política que acreditava na terra oca, na presença real do Superior Desconhecido, nos Gigantes da era secundária, sociedade que lançava expedições à conquista do Graal e julgava poder vencer por meio de sacrifícios rituais o frio da planície russa. E essa sociedade por pouco não conseguiu a vitória! Será lida com assombro esta descrição do socialismo mágico hitlerista, que altera as nações admitidas pela história oficial.

Todavia, isto é apenas um exemplo daquilo que pode desvendar o método de exploração que os autores chamam de realismo fantástico. A história dos descobrimentos, a história do pensamento desde o século XIX até os nossos dias, a história das civilizações adquirem proporções fabulosas. Na terceira parte de O Despertar dos Mágicos, sem dúvida a mais importante do livro, é a nossa concepção da psicologia humana que se encontra alterada. Tudo o que geralmente pensamos a respeito dos poderes da inteligência, dos estados de consciência, do equipamento do nosso cérebro, do gênio, da intuição, da memória ou do sonho, é varrido por um vento prodigioso, e achamo-nos numa floresta de hipóteses aterradoras e feéricas. Ora, não se trata de meditações gratuitas ou de efabulações poéticas. Trata-se de conhecimentos trazidos à luz por um método revolucionário e expresso com uma paixão clara.

 Eis por que esta obra singular, cuja documentação é enorme, se lê como um romance. Aliás, talvez seja um romance...

SOBRE OS AUTORES:

Louis Pauwels nasceu em Ghent, na Bélgica em 02 de agosto de 1920 e faleceu em 28 de janeiro de 1997 em Paris. Foi jornalista e escritor.

Jacques Bergier nasceu em Odessa em 8 de agosto de 1912 e faleceu em 23 de novembro de 1978 em Paris. Foi engenheiro químico, espião, membro da resistência francesa, jornalista e escritor.



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SONETO nº 15




William Shakespeare


Quando considero que tudo quanto cresce
Mantém-se um só instante em sua perfeição,
Que este cenário no mundo pouco mais oferece
Além da secreta influência dos astros em ação;

Quando percebo que os homens, como as plantas, evolvem
Animados e restritos debaixo de um mesmo céu,
Orgulhosos das seivas jovens, que mais tarde se recolhem
E escondem da memória os bravos dias, como um véu;

Então a imagem dessa instável permanência
Mostra você mais rica em juventude ante meus olhos,
Enquanto tempo e ruína combatem em turbulência

Para mudar a jovialidade do dia em noite de abrolhos.
E inteiramente em guerra contra o tempo pelo meu amor,
Tudo que ele de você retira, reponho com maior valor.

(Tradução de Silveira de Souza, especialmente para esta Confraria, setembro/2014)




                                                                            
                                             
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DA SÉRIE “NOSSA LÍNGUA”


“COMPUTADOR TIRA-TEIMA

Eis aí um computador maroto. Em nossa língua existe apenas “tira-teimas”, o mesmo que “tira-dúvidas” (ambas sempre com s final, a exemplo de pires, Tênis, lápis, ônibus, etc).

Veio, então, junho de 1986. E com junho veio a Copa do Mundo do México. E com a Copa veio uma emissora de televisão com uma novidade: um computador, a que deram o nome de “tira-teima”. Tratava-se de um computador que auxiliava os telespectadores a tirar dúvidas de certos lances capitais de cada jogo. Apesar de ser fortemente irrecomendável, dia destes voltaram a ressuscitar o tal computador, que teima em ser maroto.

Ora, senhores, inventar é bom mas com saúde...

Essa mesma emissora usou um locutor paulista durante as transmissões de todos os jogos da Copa do mundo. Foi outro pequeno desastre: a cada lance digno de ser revisto pelo telespectador, o homem ordenava a todos nós: “Reveja de novo o lance!”

Inventar é bom. Mas com saúde...

Em tempo – Um dicionário brasileiro, revisto e bastante ampliado, registra, para nosso espanto, o verbete “tira-teima”. Ora... Por que não registrar também, então, “tira-dúvida”? Ou pire, têni, lápi, ônibu?

Saúde, realmente, não é para todo dia – e muito menos para sempre...”

  

(Luiz Antônio Sacconi, Gafite, as gafes da atualidade, nº. 1, Nossa Editora, abril 87, P. 14)


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DA SÉRIE  “REPASSANDO”






CERVEJA NO CORPO

Você  vai ao bar e bebe uma cerveja. Bebe a segunda cerveja. A terceira e assim por diante. 

O seu estomago manda uma mensagem para seu cérebro dizendo "caracas véio... o cara tá bebendo muito liquido, tô cheião!!!"

Seu estômago e seu cérebro não distinguem que tipo de liquido está sendo ingerido, ele sabe apenas que "é líquido". Quando o cérebro recebe essa mensagem ele diz: "Caracas, o cara tá maluco!!!" E manda a seguinte mensagem para os Rins "Meu, filtra o máximo de sangue que tu puder, o cara aí tá maluco e tá bebendo muito líquido, vamo botar isso tudo pra fora" e o Rim começa a fazer até hora-extra e filtra muito sangue e enche rápido. Daí vem a primeira corrida ao banheiro. Se você notar, esse primeiro xixi é com a cor normal, meio amarelado, porque além de água, vêm as impurezas do sangue.

O Rim aliviou a vida do estômago, mas você continua bebendo e o estômago manda outra mensagem para o Cérebro "Cara, ele não pára, socorro!!!" e o Cérebro manda outra mensagem pro RIM "Véi, estica a baladeira, manda ver aí na filtragem!!!" O Rim filtra feito um louco, só que agora, o que ele expulsa não é o álcool, ele manda pra bexiga apenas ÁGUA (o líquido precioso do corpo). Por isso que as urinadas seguintes são transparentes, porque é água. E quanto mais você continua bebendo, mais o organismo joga água pra fora e o teor de álcool no organismo  aumenta e você fica mais "bunitim".

Chega uma hora que você tá com o teor alcoólico tão alto que teu Cérebro desliga você. Essa é a hora que você desmaia... dorme... capota... Ele faz isso porque pensa "Meu o cara tá a fim de se matar, tá bebendo veneno pro corpo, vou apagar esse doido pra ver se assim ele pára de beber e a gente tenta expulsar esse álcool do corpo dele"

Enquanto você está lá, apagado (sem dono), o Cérebro dá a seguinte ordem para o sangue "Bicho, apaguei o cara, agora a gente tem que tirar esse veneno do  corpo dele. O plano é o seguinte, como a gente está com o nível de água muito baixo, passa em todos os órgãos e tira a água deles e assim a gente consegue  jogar esse veneno fora". O Sangue é como se fosse o Boy do corpo. E como um  bom Boy, ele obedece as ordens direitinho,e por isso começa a retirar água de todos os órgãos. Como o Cérebro é constituído de 75% de água, ele é o que mais sofre com essa "ordem" e daí vêm as terríveis dores de cabeça da ressaca.

Então, sei que na hora a gente nem pensa nisso, mas quando for beber, beba de meia em meia hora um copo d’água, porque na medida que você urina, já repõe a água.

 (Texto retirado do "O bar do Zé)






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CONFRARIA DO [meu] POEMA-pn






Ah crianças
dos olhos azuis.
O que será
das crianças
sem cor nos olhos
das latas de lixo
da cama feita relento
da desesper(m)ança?

Ah crianças
da comida na mesa
do estudo, do clube,
da piscina, do computador.

O que será das crianças
tamanho grande, médio, pequeno
- ...enta milhões –
cúmplices no não-alimento
dia sim e outro?
 
(Pinheiro Neto, [Des]istoricizando 2, A rosa do verso, 1988, p.69)   




2 comentários:

  1. PAPO NA CONFRARIA-pn: Luiz Carlos Amorim
    -“Escrever é um ato de sobrevivência.” Aplausos!

    DA SÉRIE POETAS MULHERES (3): Valéria Tarelho, Cris M. Branco, Carina Morais, Ana Luiza Conceição, Celma Capeche, Margarida Finkel, Silvia Amélia, Jaqueline Boabaid, Basilina Pereira e Telma Lúcia Faria.
    - Talento e criatividade!

    LI E RECOMENDO: O despertar dos mágicos: introdução ao realismo fantástico
    - Anotado.

    DA SÉRIE NOSSA LÍNGUA: “ Computador tira teima”– Luiz Antonio Sacconi
    - Bom saber!

    POEMA: Soneto nº. 15 de William Schakespeare, tradução de Silveira de Souza
    - Preciosidade!

    CRÔNICA: Esperando a morte chegar – Olsen Jr.
    - “e digo para o garçom: suspende o café e me traga outra coisa!” Bem melhor!

    DA SÉRIE REPASSANDO: Cerveja no corpo
    - Também é bom saber... rsrsrs

    CONFRARIA DO [meu] POEMA-pn: [Des]istoricisando
    - Incisivo!

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  2. Caro Pinheiro, quão precioso conteúdo neste blog, merecidamente deve ser divulgado e partilhado entre amigos!

    Boas energias te inspirem sempre...

    Baci in cuore

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