PAPO NA CONFRARIA: LUIZ ANTÔNIO CARDOSO
1 – O que te motivou
a escrever?
A
motivação surgiu com a possibilidade de registrar parte da Memória das
atividades de Prevenção de Incêndios, das quais participei por 20 anos,
enquanto servia no Corpo de Bombeiros de Santa Catarina.
2 – Cite 3 livros (e
respectivos autores) mais significativos em tua vida.
Os
3 livros mais significativos, que li durante a adolescência:
- Como era verde o meu Vale: Richard
Llewellyn;
- Por quem os sinos dobram?: Ernest
Hemingway;
- Olhai os lírios do campo: Érico
Veríssimo.
3 – Indique um livro
(Literatura Brasileira) para a leitura de:
a)
Alunos do Ensino
Fundamental:
O Guarani- em quadrinhos (José de Alencar)
b)
Alunos do Ensino
Médio:
Verde vale (Urda Alice Klueger)
c)
Alunos do Ensino
Superior:
Senhora (José de Alencar)
4 – Como se dá o processo da escrita em
tua prática cotidiana?
Durante
a semana procuro organizar um fluxo de produção que não dispute espaço na
agenda com outros compromissos, evitando sentar para escrever e ficar
controlando o relógio para não perder os compromissos. No final de semana,
inverto a lógica, insiro outras atividades nos intervalos de tempo, para
oxigenar a mente.
5 – Fale sobre o apoio dispensado pelos
setores público e privado à literatura.
Numa
pátria que se diz “Educadora” é vergonhoso falar sobre o apoio do setor
público, que cobra impostos sobre produções e aquisições de obras literárias;
quanto ao setor privado, ainda está longe o engajamento de grupos que invistam
na literatura, sem que lhes sejam oferecidas vantagens financeiras. Ler e
escrever custa caro e desestimulam os investimentos pessoais.
6 – Fale sobre o papel das Academias de
Letras em relação à Língua e à Literatura.
Em
relação à Língua e à Literatura, o papel das Academias de Letras deve ser o de
estimular seus membros a produzir obras que resgatem a memória de grupos e
organizações, um legado histórico para as futuras gerações, entre as produções
de fantasias literárias.
SOBRE
O ENTREVISTADO
Luiz
Antônio Cardoso é membro da Academia de Letras dos Militares Estaduais de Santa
Catarina, onde ocupa a cadeira número 23. É Coronel da Reserva da Polícia
Militar de Santa Catarina.
X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X
DA SÉRIE “POETAS MULHERES” – 14 - JE SUIS POEMA
[ FRIDA THALLO, UMA POETA QUE URGE]
POEMA 1
O verso
mágico,
másculo,
deixa transparecer
o tu feminino.
Enquanto eu
- fêmea faminta –
enclausuro desejos
na moldura da sala.
[Frida Thallo, 2013, especial para Confraria da Leitura-pn]
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CAMINHO
Porque há passos errados
- não deixo o caminho certo
não traio os órfãos da terra
não largo a estrela no chão
Porque há passos que voltam
- não vou cortejar a noite
não vou negar que a sufocam
as lentas faixas da aurora
Recuso jade no colo
pedras raras nos cabelos:
caminho de pés descalços
e vestida de agapantos
Porque há passos errados
- meus passos sejam mais firmes
mais alto seja o meu canto
mais alta a estrela na mão
[Maura de Senna Pereira, A
dríade e os dardos, Livraria São José, Rio de Janeiro, 1978, p. 53]
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águas medicinais
logo viajo
para o lado
que houver
lago
rio
mar
para o lado
que houver
lago
rio
mar
carinhos
termais
termais
[quiça
em um dia
de chuva
intensa
eu vá
em um dia
de chuva
intensa
eu vá
liquidar
a seca
intrínseca]
a seca
intrínseca]
preciso
- umidamente -
afagar
as mágoas
- umidamente -
afagar
as mágoas
[Valeria Tarelho,
27/07/2015, Facebook, São José dos Campos]
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HORAS FUGIDIAS
Nas horas fugidias que
aparecem
Como aromas de ventos
passados
Percebemos o som de
rebentos
Das marés vazias de todos
os lados.
Ainda procuramos e
tentamos
Carícias e alentos dos
amores
Sonhos emoções e cargas
de anseios
Para fazer da vida um
recreio.
Alternamos a direção dos
caminhos
Abrimos restas de altas
nuvens
Tudo será contentamento
neste desejo
Como o infinito som de
uma rocha.
[Vani Campos, Relicário, Somar, Porto alegre, 2014,
p. 26]
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ROMANCE
DOMÉSTICO
Fazer
da alma
Uma
nuvem.
Contar
os pingos,
Pingar
Sopa
de contos estelados
Sem
ovos quebrados
Ou
ruídos de passos.
Que
fazer com os homens?
São
machos apenas
Quando
entram no cio.
[
Rita Raphael, Da sedução da intimidade do
mundo, Cepec editora, Florianópolis, 1988, p.17]
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FLORES CIRCULARES
criar a fuga da
consagração erótica
alimentar seu grande pássaro
provocar sua expressão de cervo, de lobo e de serpente
abrir o mistério do seu olho cinza
a asa adornada pela pluma viva
sabendo que o voo nunca é cerebral
pois existe entre nós um ritual xamânico
alimentar seu grande pássaro
provocar sua expressão de cervo, de lobo e de serpente
abrir o mistério do seu olho cinza
a asa adornada pela pluma viva
sabendo que o voo nunca é cerebral
pois existe entre nós um ritual xamânico
*
ouvir o crepitar do fogo
sentir o cheiro do cedro e da melissa
mergulhar num lago de vitória-régia
enquanto tento segurar os peixes e as palavras
a indefinição dos nomes
mordendo a maçã dos lóbulos das suas orelhas
comendo no espaço dos dedos o Aleph dos magos
o rumor das narrativas dos dias circulares
onde a manhã fecha-se sobre as nossas tardes
num oceano de vinho e de sorrisos
numa fonte monossilábica
num copo de amor de vidro transparente
num desejo líquido que vem do alto do Himalaia
escorrendo como a neve derretida
a ilusão do gozo
o erotismo solúvel do seu corpo
onde existem tantas mulheres
que estiveram ali antes de mim
ouvir o crepitar do fogo
sentir o cheiro do cedro e da melissa
mergulhar num lago de vitória-régia
enquanto tento segurar os peixes e as palavras
a indefinição dos nomes
mordendo a maçã dos lóbulos das suas orelhas
comendo no espaço dos dedos o Aleph dos magos
o rumor das narrativas dos dias circulares
onde a manhã fecha-se sobre as nossas tardes
num oceano de vinho e de sorrisos
numa fonte monossilábica
num copo de amor de vidro transparente
num desejo líquido que vem do alto do Himalaia
escorrendo como a neve derretida
a ilusão do gozo
o erotismo solúvel do seu corpo
onde existem tantas mulheres
que estiveram ali antes de mim
*
sei que elas ainda se deitam no seu peito
e com sandálias de címbalos
dançam sobre uma ponte amorosa
onde passamos o tempo flutuante
ao encontro da pele
ao encontro das flores de veludo
que nascem da provocação de um jardim
permanentemente incendiado
sei que elas ainda se deitam no seu peito
e com sandálias de címbalos
dançam sobre uma ponte amorosa
onde passamos o tempo flutuante
ao encontro da pele
ao encontro das flores de veludo
que nascem da provocação de um jardim
permanentemente incendiado
[Célia Musilli, SP,
Facebook, 30/07/2015]
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A FLUTA MUDA
(Encontro relâmpago)
na saída
tua mão agarra meu
nariz
tirito ainda da ópera
gelada
o comboio da dor
desce pelos bairros destreinados
horas altas e a
mãozinha a sacudir esse nariz
em saudação
Do vagão inexpressão
viaduto
tremo sem libreto
[ Ana Cristina César,
Poética, Companhia das Letras, 2013, p.213]
@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@
O meu amor
Não é rio, o meu amor;
antes, lago.
Não corre em leito vário,
musgo, pedra, calcário.
Estanca-se em área precisa,
superfície constante e lisa.
Não se atira em corredeira,
em leviana carreira incauta.
Firme permanece. Perdura
na mais segura contenção.
Não busca paisagens diversas,
vistas de relance, às
pressas.
Contempla uma única imagem,
perscruta sua íntima
roupagem.
Não viaja margens paralelas,
nem a terceira nele se
insinua.
Circunjaz em vítrea redoma,
em lúcido leito de luz
flutua.
Abissal, em lapa profunda
mergulha o meu amor.
Deixa-se estar estático
para em si só ser:
aquoso olho da Terra a me
espiar,
broquel translúcido a me
guardar,
espelho onde dançam, à
revelia,
as estrelas-meninas da minha
alegria.
[Iris Guimarães Borges, via
emeio/2015]
X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X
LI E
RECOMENDO (13)
ASSASSINATO AO LUAR é o novo livro de contos de Raul Caldas Filho, um dos
escritores catarinenses atuais de grande
significação literária na área da prosa nacional. Também cronista de mão cheia,
Raul é um daqueles escritores que costuma surpreender a cada novo projeto, a
cada nova história.
Desta vez são quinze
narrativas de temática variada onde as intrigas transcorrem em diferentes
épocas com os personagens envolvidos em situações conflitantes ou insólitas. O
leitor encontrará fortes doses de erotismo, em relatos nos quais se misturam
inquietações adolescentes, paixões proibidas e amores impossíveis. Temas
controversos, de ontem e de hoje, como prostituição, homossexualismo,
pedofilia, violência contra mulheres, tráfico e consumo de drogas também
aparecem nas tramas.
O conto que dá título ao
livro tem todos os ingredientes de uma sombria história policial: uma bela
jovem morta, jornalista investigativo, delegado durão, mulheres glamorosas,
detetive abelhudo, mordomo enigmático e vários suspeitos. Só que toda ação
desenvolve-se há luminosa Ilha de Santa Catarina e tudo é conduzido à moda
brasileira.
Apesar do denso conteúdo, a
linguagem do autor é fluente e receptiva (não faltando também a crítica social,
o humor e a ironia) propiciando uma prazerosa leitura.
SOBRE O AUTOR
Raul Caldas Filho nasceu na
histórica São Francisco do Sul (Santa Catarina) em 1940, mas se criou e fez os
seus estudos na capital do Estado. É formado em Direito, jornalista, cronista e
ficcionista. Como jornalista trabalhou ou colaborou com os principais jornais catarinenses
a partir de 1963. Foi também repórter da revista Manchete durante dois anos
(1967/1968) no Rio e correspondente da editora Bloch em santa Catarina. Já
publicou onze livros, sendo sete pela Editora Insular, entre ficção, crônicas,
reportagens e textos variados. Participou ainda de dezenove coletâneas.
X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X
DA SÉRIE “EU SOU POEMA”
LUZ
SÚBITA
Estive
aqui
Mas não
sei dizer como nem quando:
A grama
além da porta eu já vi.
Reconheço
também o aroma brando
os sons
anelantes, as luzes na praia,
aqui e
ali.
Sim, já
foste minha antes
há quanto
tempo não posso dizer.
Quando,
das andorinhas aos voos rasantes,
viraste a
cabeça para ver,
ah,
caiu-me um véu, soube de coisas distantes.
Tudo
antes então tem sido desta sorte?
Haverá na
maré do tempo de novas vidas,
a
despeito da morte,
luz
súbita que restaura passados momentos de amor,
bem como
dias e noites de vivência forte?
[ Dante Gabriel Rossetti. Tradução
livre de Silveira de Souza,
especialmente para Confraria da Leitura-pn]
X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X
[Grafiteiro surfista]
FEBRE
acostumou-se a conversar com tudo e qualquer coisa. com gente
morta, gente que não existe, gente que existe e não se importa. com espelhos,
paredes, vidros de perfume. com uma boneca de louça francesa, sem o olho
direito, presente de seu pai. com ela mesma, às vezes. com seus botões, a toda
hora. com os cheiros antes de senti-los. com um corisco riscando a pele antes
da tempestade. com os pés de barro de um homem impossível. com histórias que
não eram as dela.
e tudo era tão triste antes que descobrisse uma fresta no teto. e o voleio úmido das asas de algum anjo caído não se sabe de onde.
tudo era tão triste, e mais triste, agora:
com a febre e o dedo entre as pernas escalando a solidão.
e tudo era tão triste antes que descobrisse uma fresta no teto. e o voleio úmido das asas de algum anjo caído não se sabe de onde.
tudo era tão triste, e mais triste, agora:
com a febre e o dedo entre as pernas escalando a solidão.
[Mariza Lourenço, 22/08/2015, Face book]
x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x
DA
SÉRIE “NOSSA LÍNGUA”
Você sabe por que...?
1- Você sabe por que dizemos alô! assim que atendemos ao telefone? Se não sabe, eis por quê: na
França, no século passado, quando se começou a utilizar o telefone, dizia-se
“allons” (depressa, vamos logo), à retirada do fone do gancho. A palavra pedia
pressa, mas ela mesma era demasiado longa (o som nasal a alongava demais).
Passou-se, então, a dizer apenas alô!
E assim ficou.
[ Luiz Antônio Sacconi, Gafite, nº. 1,
abril 1987, Nossa Editora, p. 25]
X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X
DA
SÉRIE “PARA [SÓ]RIR E NUNCA TENTAR”
Gostaria de dividir minha
experiência com vocês que bebem e dirigem mesmo assim.
No último sábado à noite, não
sei quantas cervejas eu bebi.
Sabendo que
não estava legal, fiz algo que nunca havia feito antes: deixei meu carro no
estacionamento e peguei um ônibus.
Resultado:
cheguei em casa a salvo, sem nenhum
incidente e com ótima sensação do dever cumprido...
Agora, o que me
causou grande dificuldade foi estacionar, pois eu
nunca havia dirigido um ônibus na minha vida!
kkkkkkkkkkkkk
[Autor desconhecido Face book 2014]
X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X
DA SÉRIE “POEMAS
VISUAIS”
[Fátima Queiroz, Poema Visual]
X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X
O MELHOR LIVRO DE POEMAS QUE ESCREVI
POUQUÍSSIMOS PODERÃO LER NESTA VIDA.
ELE ESTÁ IMPRESSO NO MEU CORAÇÃO! E TU, COM CERTEZA ESTÁS LÁ, EM TODOS
OS VERSOS QUE NÃO FORAM PUBLICADOS.
ELE ESTÁ IMPRESSO NO MEU CORAÇÃO! E TU, COM CERTEZA ESTÁS LÁ, EM TODOS
OS VERSOS QUE NÃO FORAM PUBLICADOS.
(Pinheiro Neto)
X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X
CONFRARIA
DO [meu] POEMA-pn
A chuva
encharca
lembranças
nonagenárias.
Braços imóveis
sequer mudam
o canal da tv.
(Pinheiro
Neto, 90 e tantos, inédito, março
2013)
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